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sábado, dezembro 17, 2005

Avaliação

A senda de debates que se tem vindo a arrastar pelos três canais de sinal aberto portugueses estão quase a atingir o seu término. Mesmo antes da apoteose final, convém fazer um pequeno balanço do que tem sido falado pelos candidatos, quando confrontados em debates.

  • Cavaco Silva tem mantido o estilo com que iniciou a campanha. Opta por falar pouco (em termos de conteúdo, claro, que os rígidos tempos acordados pelos candidatos não permitem a manutenção do silêncio), fugindo a perguntas e provocações, respondendo de forma exemplar às críticas que são feitas ao seu governo. Pela forma, e pela eficácia com que atinge aqueles que o querem ver em Belém, sem saberem muito bem porque votam nele, dou-lhe um 16. Pelo conteúdo, fica pelo 13. Precisamos de ideias e não de lugares comuns. Média de 14,5.
  • Manuel Alegre mostra em demasia o seu pouco à vontade em debates. Não sabe estar, evidenciando a sua inexperiência neste tipo de entrevistas. Tem o mérito de tentar responder na maioria das vezes de forma frontal às perguntas (o que nem sempre é a melhor solução, como ficou presente na sua resposta à privatização das águas), tendo sido raras as vezes em que fintou o touro, em vez de o tomar pelos cornos. Denota, por vezes, algum desconhecimento do terreno que pisa. Caiu no erro de entrar no jogo de Soares e ter saído derrotado, como seria de esperar. Performance final, e muito devido à apresentação de ideias e frontalidade, 15.
  • Mário Soares sente-se um pouco desconfortável neste formato. Prefere confrontar os jornalistas, os adversários, e se possível, aqueles que não estão presentes. Tem vindo a fazer o seu jogo, atacando o sempre omnipresente Cavaco. Denota-se grande conhecimento dos poderes e limitações de um PR e uma grande vitalidade. Mas, como outros, demonstra um vazio de ideias. Vale-lhe poder responder aos jornalistas e ir escolhendo o caminho à medida que o pisa. Nota final de 13, devido à sua inadaptação a este tipo de debates e deserto de ideias.
  • Jerónimo de Sousa consegue (não sei bem o que as pessoas vêm nele) captar a simpatia dos votantes. Sempre com um sorriso na algibeira para as situações mais difíceis, vai enfrentando os adversários com acusações, das quais eles se vão defendendo. Estudou demasiado bem, a ponto de se colar demasiadamente a ela, a Constituição da República. Joga a seu favor o passado mi(s)tificado de trabalhador, ligado às classes operárias (será daqui que vem a simpatia?). nota final de 14, por jogar com todas as armas por não ter nada a perder.
  • Francisco Louçã é um mestre nestes debates. A sua experiência e propalada eficácia como parlamentar valem-lhe uma melhor execução do que as dos seus adversários. Enumera as suas ideias, uma atrás das outras, apostando em apontar as diferenças para com os seus adversários. Arrisca, como é seu hábito, nos extremismos, por não ter nada a perder e tudo a ganhar. Devido ao seu à vontade, encaixe neste formato de debate, e clareza de ideias, é, de longe, o melhor debatista. Mas não irá ser aquele que mais beneficiado sai. No entanto, um muito merecido 17.

P.S. – A ordem de apresentação dos candidatos baseia-se na ordem dos debates.

2 Pós e Contas:

Blogger aL Quis dizer...

Prometeu, tomei a liberdade de formatar o texto, para o tornar mais claro e evidência a excelente análise que fizeste. [a formatação resumiu-se aos blod's, itálicos e cores no texto]

o sr. professor fez, mais uma vez uma avaliação exemplar! continuas a achar que alegre é o melhor? ou será que o louçã já te conseguiu fascinar?

17/12/05 23:02

 
Blogger Filipe Quis dizer...

Não sendo o artigo ideal, deixo aui no entanto a tal "deixa" prometida de um filósofo político francês, Marcel Gauchet, a propósito de liberalidade. Como se trata de uma entervista eu traduzi apenas algumas partes:

Le Soir (jornal belga)- Hoje, o liberalismo triunfa. Como aconteceu esta hegemonia?
Marcel Gauchet- Evidentemente que não se trata de um trovão num céu sereno: trata-se do desaguar de um movimento que é consubstancial à representatividade legitimada, à construção do governo a partir dos desígnios da sociedade. A partir da estranha crise dos anos 70, que primeiro julgou-se ser económica mas que depois revelou-se como uma mutação civilizacional generalisada, assistimos ao regresso do liberalismo que pensávamos estar enterrado desde a crise de 1929. A economia ganha uma proeminência que nunca antes tinha tido.(...)
Le Soir- Essa liberalisação não é apenas económico...
M.G.- O grande erro é de facto reduzir o liberalismo a um simples fenómeno de poder da economia. É ao mesmo tempo um fenómeno social ou "societal" marcado por uma individualisação dos costumes e das formas de viver que diz respeito a todas as instituições, começando pela família e terminando na política.

17/12/05 23:56

 

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