À "NOITE"
Sempre acreditei que a precursão influencia a mente humana de uma forma bastante diferente da restante música. Isto caberá a algum psiquiatra analisar, ou até mesmo algum etnólogo, mas desde cedo que o Homem usou o som de tambores para estimular rituais que hoje seriam considerados selvagens ou até mesmo animalescos.
Estes ritos já há muito que foram considerados como afastados da moderna Europa, mas a visita a qualquer um dos mosteiros de música tecno do Porto permitem-nos mudar a opinião.
Eram apenas 3 da madrugada quando me decidi dirigir ao monstro da noite, o Via Rápida. Algum estrogénio alterado alterou os meus planos, atrasando-os em algum tempo. No entanto, defende a sagrada e todo-poderosa lei da noite portuguesa que em discotecas só se entra a partir das 2. Encontrava-me legal. A visão daquilo a que alguns chamam como o maior espaço de diversão nocturno da Invicta (pergunto-me onde aquela terá ficado) foi assustadora. Corpos bamboleavam-se mecanicamente, naquilo que nunca se poderia denominar como ritmo frenético devido à falta de espaço. Foram 5 os minutos que rastejaram até alcançar o grupo com o qual tinha jantado. Entre corpos ofegantes, quentes, latejantes, suados, fui penetrando no espaço exíguo, descobrindo, qual zoolofilo em plena Amazónia, pequenos espaços por entre a floresta de braços e pernas que teimava em me dificultar a busca do meu objectivo.
O calor amontoava-se em meu redor. Uma dificuldade de locomoção e sobretudo respiratória assomou-se do meu corpo quase exangue. Necessitava de ar, respirar, pensar.
Foi então que tudo aconteceu. O ritmo forte e seguro da batida do hip-hop controlava os corpos. Ordenava movimentos desconhecidos aos menos acostumados a estas andanças noctívagas. Observo cautelosamente a savana em meu redor. Uma silhueta aprisiona a minha atenção. Movimentos felinos alternam olhares mortais. A vítima deixa-se enredar neste macabro ritual de acasalamento. Ss, As, Cs, todo o alfabeto é corporizado por aquele físico jovem. Cravo então o olhar na bela ninfa alvo da dança. As ondas ruivas percorriam o rosto até abaixo do pescoço. O reduzido tecido de cor negra parecia apenas ser usado para evidenciar os contornos perfeitos desta Vénus.
O ritual era correspondido. Com a parede como apoio, a corpo abraçava a batida e descaía pela noite, mantendo as pupilas prisioneiras de qualquer atributo físico do galã. Largos minutos mantêm suspensas enormes quantidades de feromona. A necessidade de olfactar a fêmea obriga a uma aproximação. O contacto torna-se intenso. As formas unem-se num puzzle forjado em fogo. Pernas e braços enlaçam-se num bailado erótico. Lábios reticentes lutam por um espaço no corpo do outro. O espectáculo é curto. O macho detecta outro alvo, amiga da rejeitada. A estimulação repete-se, desta vez mais ritmicamente. De todos os lados, rios transbordam de apetite sexual. Línguas lincham-se mutuamente, num passo agressivo, chicotada atrás de chicotada.
O amor não vive por estas bandas. Matamo-lo. E alguém esqueceu-se de me avisar.
Estes ritos já há muito que foram considerados como afastados da moderna Europa, mas a visita a qualquer um dos mosteiros de música tecno do Porto permitem-nos mudar a opinião.
Eram apenas 3 da madrugada quando me decidi dirigir ao monstro da noite, o Via Rápida. Algum estrogénio alterado alterou os meus planos, atrasando-os em algum tempo. No entanto, defende a sagrada e todo-poderosa lei da noite portuguesa que em discotecas só se entra a partir das 2. Encontrava-me legal. A visão daquilo a que alguns chamam como o maior espaço de diversão nocturno da Invicta (pergunto-me onde aquela terá ficado) foi assustadora. Corpos bamboleavam-se mecanicamente, naquilo que nunca se poderia denominar como ritmo frenético devido à falta de espaço. Foram 5 os minutos que rastejaram até alcançar o grupo com o qual tinha jantado. Entre corpos ofegantes, quentes, latejantes, suados, fui penetrando no espaço exíguo, descobrindo, qual zoolofilo em plena Amazónia, pequenos espaços por entre a floresta de braços e pernas que teimava em me dificultar a busca do meu objectivo.
O calor amontoava-se em meu redor. Uma dificuldade de locomoção e sobretudo respiratória assomou-se do meu corpo quase exangue. Necessitava de ar, respirar, pensar.
Foi então que tudo aconteceu. O ritmo forte e seguro da batida do hip-hop controlava os corpos. Ordenava movimentos desconhecidos aos menos acostumados a estas andanças noctívagas. Observo cautelosamente a savana em meu redor. Uma silhueta aprisiona a minha atenção. Movimentos felinos alternam olhares mortais. A vítima deixa-se enredar neste macabro ritual de acasalamento. Ss, As, Cs, todo o alfabeto é corporizado por aquele físico jovem. Cravo então o olhar na bela ninfa alvo da dança. As ondas ruivas percorriam o rosto até abaixo do pescoço. O reduzido tecido de cor negra parecia apenas ser usado para evidenciar os contornos perfeitos desta Vénus.
O ritual era correspondido. Com a parede como apoio, a corpo abraçava a batida e descaía pela noite, mantendo as pupilas prisioneiras de qualquer atributo físico do galã. Largos minutos mantêm suspensas enormes quantidades de feromona. A necessidade de olfactar a fêmea obriga a uma aproximação. O contacto torna-se intenso. As formas unem-se num puzzle forjado em fogo. Pernas e braços enlaçam-se num bailado erótico. Lábios reticentes lutam por um espaço no corpo do outro. O espectáculo é curto. O macho detecta outro alvo, amiga da rejeitada. A estimulação repete-se, desta vez mais ritmicamente. De todos os lados, rios transbordam de apetite sexual. Línguas lincham-se mutuamente, num passo agressivo, chicotada atrás de chicotada.
O amor não vive por estas bandas. Matamo-lo. E alguém esqueceu-se de me avisar.
escrito por Anónimo a 5:15 da tarde
2 Pós e Contas:
Não falta aqui nada?
Just kidding.
Bom texto. Já falamos disso:)
Hoje não estou apta a análises profundas...:-S
Um beijinho,
xxRita
22/8/05 01:17
estava de passagem e vejo-me preso neste texto. Já não lia nada assim que me prendesse o olhar à muito, muito tempo. Excelente texto.
Keep up the good work.
Cumprimentos,
20/11/06 12:22
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