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sexta-feira, agosto 19, 2005

TGV

As minhas questões sobre o TGV são várias e variadas, mas há uma em especial que me tortura a mente. Já muito se falou nos benefícios que traria para o país, desde a necessidade de uma melhor ligação para Espanha e consequentemente para a Europa, assim como a redução da situação periférica de Portugal.

O investimento público foi elevado por Manuel Pinho a motor da economia, comparando a nossa situação à da Grécia, Espanha, ou até mesmo Suécia e Coreia do Sul. Porém, o nosso país atravessa uma grave crise financeira sem o mais pequeno dos oásis no nosso raio de visão. Seria então prudente para o Estado, numa altura em que se pede a todos os cidadãos português para serem o menos despesistas possível, apostar em projectos que já são denominados de faraónicos? Senão, vejamos. O Ministro das Obras Públicas garante que o TGV irá arrancar até 2009 (faltando desde já ao acordado com Espanha que previa que o comboio de alta velocidade estivesse concluído já em 2009) precavendo-se à partida (e aqui Manuel Pinho mostra alguma sabedoria sobre a cultura laboral lusitana) para os atrasos, que serão inevitáveis. Já foram anunciados investimentos que rondam os 1,5 mil milhões de euros, admitindo-se no entanto que este valor se encontra abaixo do estimado para o projecto. Este projecto não implica apenas a colocação do comboio sobre os carris, mas sim também projectos de engenharia, execução e expropriações, movimentações de terra, construção de estações e subestações eléctricas e outras infra-estruturas necessárias, designadamente para as estações. Agora levanta-se a questão da viabilidade financeira do projecto. Já foram feitos estudos de viabilidade económica, para não correr o risco do TGV circular que nem um comboio fantasma pelos carris de Portugal?

Porém, o que realmente me incomoda é a adjectivação deste projecto. Por ventura será um mero problema linguístico, mas denominar este projecto de “prioritário” parece-me o simples recurso a uma hipérbole, se não mesmo uma falta de bom senso. Vivemos num país cujas ligações ferroviárias não chegam a 75% das cidades; as linhas-de-ferro actuais não permitem os comboios atingir as velocidades para que foram construídos, gastando tempo precioso em percursos curtos, se as linhas não fossem tão sinuosas (caso extremo é o do ALFA PENDULAR, que não chega a atingir a sua velocidade máxima numa distância de mais de 300 kms), o que seria facilmente emendável com uma reestruturação do mapa ferroviário português; o transporte de cargas ferroviário encontra-se subdesenvolvido em Portugal. E este sim, seria então um projecto prioritário, visto que tornaria as estradas portuguesas mais seguras, o transporte de mercadorias pesadas mais rápido (com a existência de boas linhas) e sobretudo mais económico, a ponto de poder vir a representar um estímulo económico para o país.

Em suma, prioritário será, não apostar em investimentos cuja viabilidade está longe de ser segura, mas tentar melhorar e aproximar os níveis de tráfego ferroviário dos nossos parceiros europeus, para assim arrastarmos Portugal para fora da sua situação periférica no que concerne o movimento de pessoas a preços reduzidos.