Falha minha
Apenas a indisponibilidade de tempo me impediu de referir o magnifico post Ministério da Moda no A Arte da Fuga.
De facto, devo fazer a devida reverência à habilidade argumentativa do seu autor. Este recurso discursivo apoia-se no extremar da posição do argumento do adversário de forma a torná-lo ridículo, levando ao seu consequente descrédito.
A ideia de criar um ministério da moda é suficientemente absurda para agregar reacções discordantes de tal ideia. Consegue, portanto, condicionar o raciocínio de quem lê. Contudo aquilo que diz, não é exactamente aquilo que quer dizer.
A indústria onde se insere a moda já está tutelada. Ora, seria uma opção mais eticamente correcta se fossem expostos os enumeros subsídios que são dados à indústria [textil, calçado, vestuário] de forma bastante camuflada para aqueles contribuintes que não podem ou não querem esmiuçar o orçamento de estado.
Há que ter a consciência que a moda é acima de tudo uma manifestação da individualidade, logo algo da esfera privada do individuo.
Tendo em conta os brilhantes textos com que o autor nos presenteia, confesso que estava à espera de muito melhor!
De facto, devo fazer a devida reverência à habilidade argumentativa do seu autor. Este recurso discursivo apoia-se no extremar da posição do argumento do adversário de forma a torná-lo ridículo, levando ao seu consequente descrédito.
A ideia de criar um ministério da moda é suficientemente absurda para agregar reacções discordantes de tal ideia. Consegue, portanto, condicionar o raciocínio de quem lê. Contudo aquilo que diz, não é exactamente aquilo que quer dizer.
A indústria onde se insere a moda já está tutelada. Ora, seria uma opção mais eticamente correcta se fossem expostos os enumeros subsídios que são dados à indústria [textil, calçado, vestuário] de forma bastante camuflada para aqueles contribuintes que não podem ou não querem esmiuçar o orçamento de estado.
Há que ter a consciência que a moda é acima de tudo uma manifestação da individualidade, logo algo da esfera privada do individuo.
Tendo em conta os brilhantes textos com que o autor nos presenteia, confesso que estava à espera de muito melhor!
escrito por aL a 12:07 da manhã
28 Pós e Contas:
Muito obrigado pela amabilidade!
...mas não vejo no meu post qualquer "adversário" -- a menos que exista quem de facto goste de ministérios absurdos >)
Agora a sério, estou à espera de uma "Apologia da Especificidade da Cultura" ou "Porque é que o Mercado não se aplica à Cultura" :)
De resto, quanto aos apoios que a "moda" suga, principalmente nos subsídios aos têxteis, estamos de acordo!
7/11/05 13:51
O texto do AA e' muito giro mas de facto uma mera alegoria para o terror do "monstro", sem que se possa levar demasiado a serio :)
Concordo com aL que ja' ha' um pouco de "moda" no aparelho estatal, atraves de outros organinismos.
Contudo, discordo disto:
"Há que ter a consciência que a moda é acima de tudo uma manifestação da individualidade, logo algo da esfera privada do individuo."
Se ha' fenomeno por definicao "social" e nao "individual" e' a moda! NUma ilha deserta, ou de individuos que desprezassem o "No man is an island" do John Donne, a moda nao seria sequer uma coisa a ponderar. Seria tipo a "oitava cor" - algo para alem da realidade.
O que eu acho que a aL queria dizer e' que a "aceitacao" dos criterios da moda (a expressao e' um bocado centralista, mas aqui e' msmo assim, porque a moda e' "ditada" pelos designers, gurus da moda, revistas, etc) e' um acto individual e tem que ser respeitado enquanto parte da sua esfera privada. Mas dai a dizer que "a moda e' um fenomeno individual" vai uma diferenca abissal a meu ver e que viola o caracter constitutivo da moda-ela-propria.
7/11/05 18:34
PS: A moda - para alem do lado criativo (e ate' "evolutivo"), claro - funciona como um mecanismo de signalling e self-selection: ou estas na moda, ou contra a moda, ou algo aleatorio in between.
Qualquer destas atitudes "revela" uma certa postura, tal como revelam o partido que escolhes, ou onde moras, ou o nome que das aos filhos, ou o carro que tens, ou onde passas ferias, ou que blogs visitas, ou seja la o que for.
Nesse sentido e' individual. Mas a existencia da moda e' um fenomeno por natureza social e nao individual. Embora na sua genese possa estar a motivacao individual de criar um sistema "eficiente" em que certas assimetrias informacionais possam ser diminuidas (quer em relacao a quem tem "gosto" ou nao, quer em relacao a quem tem "posses" - este mais facil de "sinalizar"), ele so' se efectiva se houver a aceitacao colectiva do seu significado.
Um pouco como a moeda, que so' vale porque todos nos concordamos em (concordar) que ela tem valor. E' essa aceitacao mutua que permite que uma serie de fenomenos "sociais" tenham lugar. O que nao retira a soberania ao individuo de escolher estar na moda ou nao. No fundo, nao podemos confundir "procura" e "oferta". A procura e' eminentemente individual. Mas a "oferta" so' nasce da aceitacao colectiva (ou pelo menos de alguns "grupos") de certos padroes e interpretacoes deles mesmos.
7/11/05 18:41
Alaíde,
É uma sorte termos aqui o Tiago Mendes - não só um dos bloggers portugueses em melhor forma como um dos nossos melhores comentadores! Infelizmente, e espero que o Tiago possa ler isto, não tenho tido tempo suficiente para ponderar e responder em condições aos seus textos muito estimulantes.
Hoje em dia a moda é um fenómeno pop. Por tuta e meia compra-se um kit fashion em qualquer lado. Ainda sábado fui ao Bairro Alto durante a tarde e até eu que sou bastante convencional e nada consumista (é verdade, não gosto de fazer compras!) senti-me tentado face a tanta coisa tão engraçada e barata.
Mas no meu exemplo simplicista, procurei fazer ver que uma subsidiação e controlo central destruiria todo este mundo criativo, que depende do mercado porque se alimenta da escolha individual. Em poucos campos há tão grande proximidade entre um bem de consumo e a identidade do consumidor do que o que mostramos ao mundo no que vestimos. Mas seria "fácil" tornar este sector em algo controlado e subsídio-dependente.
A minha analogia era com a Cultura, que a Alaíde alega não poder estar sujeita ao mercado livre. Que o liberalismo mataria a cultura. Que a sua especificidade justifica a acção estatal sobre a _criação_ cultural.
Eu discordo porque a Cultura, tal como a Moda, é algo cujo valor (não falo de preços ou custos) é absurdamente variável indivíduo a indivíduo. E só por isso valia a pena devolver a Cultura ao Mercado (mas também pelos argumentos do costume)...
7/11/05 19:06
Antonio, deveria ficar demasiado babado-e-inibido com o comentario inicial para dizer que "sim, estou aqui, e li-o", mas ainda assim nao resisto a responder 'a tua interessante questao.
A moda hoje em dia nao e' apenas um fenomeno pop - e' "em parte" um fenomeno pop. Voltamos 'a estratificacao da moda. Ha' a Zara, a Massimo Dutti, a Armani, a Versaci, a Hermes. Mais gosto, menos gosto (falamos de "preferencias" )- isso e' com cada um - a diferenciacao "final" e' claramente feita pelo poder de compra, porque e' este que determina (ou limita, neste caso em que todos gostariam de consumir coisas mais caras) crucialmente as escolhas. Ha' um ponto a ter em conta aqui: e' que embora o comportamento individual seja no sentido de "self-selection" numa "better-pool", o resultado se todos o fizessem seria nulo.
Cada um secretamente gostaria de ter um guarda roupa Hermes ou Versace (estou a simpliicar, obviamente, e a pensar naqueles que se preocupam bastante com a moda e a "vida social"...), mas se todos o tivessem isso seria indiferente. Ninguem sinalizaria nada.
Isto levanta outra questao interessante: a maioria dos "bens de estatuto" representa uma "Perda social" porque basicamente e' um resultado dum "dilema de prisioneiroS": toda a gente quer ter um Mercedes ou BMW "so'" para ser diferente do vizinho, mas se todos os comprarem, acabam for ficar todos iguais - em termos de "status comparativo" - mas com menos dinheiro para ir de ferias (claro que estou a isolar o "conspicous effect" de ter um carro mais carro - mais selecto - do efeito obvio dum carro mais carro em geral ser de melhor qualidade, design, etc).
O Antonioo ainda diz:
"Procurei fazer ver que uma subsidiação e controlo central destruiria todo este mundo criativo, que depende do mercado porque se alimenta da escolha individual."
Eu diria que haveria inevitavelmente restricoes, e o mercado e' sempre mais eficiente a transmitir sinais vindos dos consumidores. No entanto, voltava 'a questao acima: a moda tem muito de "exterior" mais do que de "proveniente" das "massas" ou hordas de consumidores. Acho que aqui a analogia com um "centralismo socialista" peca porque, embora seja relevante, a dimensao e' muito menor. Exclusivamente pela dimensao "supply-driven" da moda.
Quanto 'a cultura, discordo da tua posicao (Antonio) Nao vejo analogia entre cultura e outros bens em geral. Nao vejo tambem porque e' que o facto da avaliacao da cultura variar de individuo para individuo e' estritamente conducente 'a rejeicao de qualquer papel da cultura. Lembra-te do que e' a democracia: instituicao do conflito. Ha eleicoes, referencods, etc, tudo para ponderar escolhas sociais. Podes defender a inexistencia dum ponto vista exclusivamente liberatario mas nao directamente a partir da diferente avaliacao dos individuos, porque isso acontece para tudo.
Quanto a mim, a cultura e' diferente proque ela e' constitutiva da sociedade que temos. Nao me quero alongar muito aqui, ate' porque nao e' o assunto do post. Mas basicamente defendo que o estado tem um papel a desempenhar, e que isso deve ser limitado e muito bem vigiado. por exemplo, sou a favor da televisao publica, e posso-te asseverar que a Inglaterra "nao faz sentido" sem a BBC. E' patrimonio comum - e' parte da ideia - nao imposta, mas espontanea! - de "comunidade", sobre a qual este pais, a par da (primordial) liberdade, floresce. E, sobretudo, se compreende, e se intrecruza.
Para terminar, a analogia directa entre Cultura e Moda nao me parece feliz, porque a moda e' um fenomeno de mera identificacao inter-pares (o tal mecanismo de "seleccao"), enquanto a cultura e' algo que "lubrifica" a sociedade e ate' que pode ter impacto importante na identificao da propria pessoa - desligada dos outros.
Desculpas pela extensao do comentario, mas este tema e' de facto interessante e havia muito mais a dizer!
7/11/05 19:30
So' para acrescentar, ainda em relacao 'a moda, que nao e' so importante o ponto de vista "individual" - em que cada um pretende "auto-seleccionar-se" e diferenciar-se dos outros -, mas tambem o ponto de vista "grupal", em que os individuos usam o mecanimos da moda para se identificarem em "bandos". Seja de skaters, hippies, yuppies, betos, rastas, punks, etc, a moda - ou, mais genericmaente, os sinais exteriores de cada um - permite a identificacao de cada um como uma certa forma de estar e um sentimento de "encontro" no meio da confusao que e' a vida entre muilhoes de pessoas tao diferentes.
Essa identificao grupal e' muito importante e dum ponto de vista economico e' tambem uma foram eficiente de as pessoas se "reconhecerem". Nao quero exagerar nos comentarios (desautorizados, de resto) sociologicos/antropologicos da coisa: so queria frisar que nao ha' da minha parte a cegueira do "individualismo metodologico" que caracteriza alguns (cada vez menos) economistas. Temos que ver os incentivos invididuais que cada individuo tem, mas tambem nao podemos perder de vista o todo em que os individuos se inserem, a importancia do contexto, da tradicao, dos rituais, de tudo isso.
E e' tambem por esta ultima razao - por nenhum individuo ser um ser isolado - que eu acho que a cultura nao pode ser vista como mero bem de mercado. Porque sem ela (e simplificando...), nao havia sociedade e essa pergunta nem tinha sentido.
7/11/05 19:40
Depois disto, tenho vontade de puxar uma cadeira e ficar a ouvir! tiago, os teus comentários estão mais que autorizados! aliás levantas uma série de questões muito pertinentes, confesso que os meus objectivos com este post eram muito mais modestos.
antónio, quanto à nossa discussão sobre a cultura, isto ainda mal começou, e o tiago abordou determinadas posições com as quais concordo plenamente, ainda não tive tempo de as verbalizar (apesar de pelo que percebi consideram apenas a questão patrinomial da cultura), mas elas andam aqui no último andar ;)
bom, tenho de confessar que estou há 2 horas a tentar organizar ideias, para fazer um comentário decente... é que os vossos apontamentos implicam alguma reflexão e sobre tudo muito folego!
e seguindo os conselhos do "meu mentor" tenho de pensar 2, 3 ou mais vezes antes de falar ;)
8/11/05 02:11
É o efeito que o Tiago tem nas pessoas >)
Mas porque tudo isto deriva de uma conversa por mail muito extensa, em que acabámos por criar um "código" de simplificações, vale a pena eu fazer um ponto da situação.
Eu entendo que a Cultura é essencial porque está relacionada com a identidade de um povo, precisamente o que o impele a criar uma comunidade sob um Estado. A Cultura de um país reflete-se não só nos seus costumes, mas nas suas leis, e na perspectiva que cidadãos e Estado têm dos seus direitos e deveres recíprocos. Aqui penso que o Tiago e eu temos talvez uma concepção muito próxima, tanto mais que diz "Porque sem ela (e simplificando...), nao havia sociedade". Entendemos que há valores culturais fundamentais, estruturais à comunidade, que a Cultura é isso -- acrescida do acessório.
Do que aqui se fala é do acessório (na minha perspectiva): da criação artística apoiada pelo Estado, que a Alaíde defende como essencial para a sociedade. Não de preservação do património, instrução cultural, etc e tal que são assuntos muito consensuais.
Aqui a minha posição é simples: não deve ser o Estado a apoiar a criação artística mas sim o Mercado e a comunidade. A criação artística e o seu consumo são de facto manifestações da Cultura de uma sociedade, mas também o são quaisquer actividades produtivas (Alaíde, não estou a dizer "improdutivas"!). Não entendo e nem aceito a política cultural do Estado, que é quase puramente subjectiva, arbitrária e errática. Se exagero, desafio-vos a fazer uma lista de projectos de criação artística apoiados pelo Ministério e julgarem o seu valor para a Cultura como acima definida, ou para o bem comum.
A Alaíde dirá que é uma concepção de Cultura que não é universal; tem razão. É o máximo denominador comum. A partir daqui a escolha artística deve ser devolvida aos indivídios, assim como o encargo fiscal correspondente. Que a criação artística precise de um plano, de uma política é algo que ofende quem não é da opinião que o consumo artístico é algo da esfera do indivíduo. Que precise das nossas recorrentes safety nets é quanto a mim minorar o conceito que as sustenta: a dignidade humana.
O exemplo recorrente nas nossas conversas é a arte contemporânea. Uma mega produção pode custar muito e ser bonita e grandiosa e bem aceite para crítica, a experiência de uma vida, e a esmagadora maioria da sociedade dizer "tinham de pagar para eu ir". Mas o que acontece é que pagam para outros irem. É o exemplo de valor diferentemente entendido pelo Estado e criadores, e pelo Mercado -- as pessoas. Há sempre uma inversão perversa— o Mercado são pessoas, os tempos e as vontades6mdash; o Estado é que são os dinheiros, os interesses instituídos, o status quo.
De novo, e em todos os exemplos, não faço juízos de valor. Falo de arte contemporânea (grande parte da qual não me sensibiliza), como podia falar do Quinto de Beethoven. A Alaíde alega que eu não posso fazer estes juízos porque não tenho conhecimento suficiente de arte contemporânea, e se eu tivesse veria a bondade dos subsídios à criação artística. É algo que entendo ser elogioso, porque depreende que a nossa amiga acredita que eu de facto conseguiria chegar lá. Mas eu entendo que nem eu tenho a capacidade de ter um conhecimento suficiente, nem isenção para usá-lo para bons fins. E que ninguém tem, muito menos instituições burocráticas.
8/11/05 12:38
António, obrigada pelo recapitulares a matéria. no entanto considero que há algumas imprecisões. eu não considero essencial o apoio do estado à criação, mas por agora não me posso alongar mais, senão ainda me vão acusar de esbanjar o dinheiro do contribuinte [ainda mais] em actividades "inuteis" e "improdutivas" [ainda mais].
mas já está a ser desenhado um novo post sobre o estado e a cultura - tomo III
8/11/05 13:07
«Eu entendo que a Cultura é essencial porque está relacionada com a identidade de um povo, precisamente o que o impele a criar uma comunidade sob um Estado (...)» penso que não é possível discordar disso!
sempre pensei que por uma questão de balizamento (de pensamento e de argumentação) faríamos corresponder Cultura a Arte. E António, mais uma vez a Arte não é acessória! a Arte é INÚTIL!
8/11/05 13:32
Eu diria apenas que o apoio à criação deverá ser à partida justificável como "mera extensão argumentativa" do apoio à "manutenção". Ou seja, não estou a defender por si só, mas apenas pegando no ponto do ANtónio. Se é importante valorizar o que "já temos", não será "consequente" que devamos - em moldes variáveis, claro, falo da "questao de princípio" - apoiar a criação artística?
Podemos argumentar - e é, em parte (e felizmente) verdade - que muita criação se faz (e se fez) sem apoio do estado. A questão de "como avaliar" é sempre difícil. Por isso, e não descurando que é essencial decidir sobre o dinheiro dos contribuintes, eu preferia por a questão numa etapa "precedente", isto é, em equacionar meramente a questão de princípio, de saber se o estado deve ou não ter "algum" papel - independentemente de qual ela venha a ser.
COmo referi em comentário anterior, o argumento de que não há acordo quanto ao "valor" de certas obras culturais não é "suficiente" para que elas não sejam "peremptoriamente" subsidiadas, porque a "escolha social" é isso mesmo: uma forma de agregar prefer~encias. Mais que não seja, através do voto "geral" nas legislativas. Claro que é fácil arranjar exemplos mais ou menos caricatos como o do filme "Branca de Neve" (que não vi, ou melhor que "não vi mesmo", já que "ver" ninguém viu nada - apenas terão ouvido).
Há um argumento de eficiência que é muito simples: um estado deve subsidiar todas as actividades que tenham externalidades positivas (educação, saúde pública, etc) e cobrar impostos sobre aquelas que tenham externalidades negativas (poluição, tabaco, etc). A cultura tem externalidades - e isto, António, significa que tem benefícios que vão para além do que é aferivel simplesmente no "mercado".
Eu acredito e muito na prevalência do mercado, mas não ignoro as suas falhas. Claro que podemos voltar à questão de saber como medir essas externalidade. De qualquer modo, queria frisar que o meu argumento não se baseia primordialmente na ideia de eficiência mas sim na ideia de que a cultura é parte integrante do que somos e como tal deve ser olhada de forma diferente de outros bens e serviços. Prefiro focar o "olhar de forma diferente" do que dizer que "deve ser apoiada".
A questão é simples: eu foco-me nas "razões" e nos "princípios" e não nas consequências. A questão dos impostos é importante mas quanto a mim vem "depois". Deve ser equacionada, mas só depois de percebermos a dimensão essencial. Que é, quanto a mim, de valorizar a cultura como algo diferente.
Bolas, quem me ler ainda pensa que sou um sociólogo!*
Ficamos à espera de mais um post da Alaíde, então.
*no offense to anyone, of course :)
8/11/05 13:35
Cara Alaíde,
Peço desculpa pelas imprecisões, o palco é teu :)
8/11/05 14:49
http://www.maoinvisivel.com/blog/archives/2005/11/dia_de_finados_1.php
A proposito do papel da cultura, vejam os comments do Joao Galamba no post acima referido.
8/11/05 15:13
Tiago, depois deste teu último comentário, fico numa posição muito estranha, porque a minha vontade é apropriar-me das tuas palavras e fazê-las minhas!
mas vou esforçar-me por fortalecer (ainda mais) os teus argumentos!
antónio, "cara" é a arte que tu não queres pagar ;)
8/11/05 15:20
Alaíde,
"Cara" é a arte que eu não quero pagar e que me obrigam a pagar.
8/11/05 15:31
"Valiosa", mais que "cara" Alaide,
Nao ha' razao para nao te "apropriares" das minhas palavras - tenho uma concepcao muito liberal e nada estatizante do mercado de ideias - once outhere, they're free to be used :)
Nao resisti a linkar esta discussao toda no aforismos e a sugerir outra leitura para os que por vezes (estou a pensar nos economistas "mainstream" e meio cegos) esquecem a importancia do "contexto".
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/11/cultura-contexto-e-individualismo.html
8/11/05 15:32
obrigada tiago!
8/11/05 15:40
Anytime, cara (oops) :)
8/11/05 15:48
Tiago,
As dúvidas metódicas são bem-vindas, mas em vez de "e porque não?" gosto de me perguntar "e porque sim?". Estou disponível para olhar para a Cultura e a criação artística "de forma diferente", mas entendo que a minha "forma diferente" é diferente da forma de qualquer outro contribuinte. Se eu admito que a criação artística sobrevive sem intervenção do Estado, é porque acredito que a comunidade precisa de Arte e de Cultura e tem todo o incentivo para cobrir as suas próprias necessidades, da forma mais livre e eficiente. Logo, que me identifiquem onde é que o mercado (as pessoas) falham. Se há externalidades, elas têm de ser evidentes, e não o são -- a prova é que andamos aqui a fazer exercícios de retórica. Aliás, não: entendo haver externalidades fortes nas infraestruturas culturais e na preservação do património, mas não vejo como poderão existir no apoio à criação de arte de natureza perene, cujo contributo para a identidade comunitária é infinitesimal e transitório. No processo de identificarmos a especificidade da Cultura, não nos esqueçamos que tudo tem a sua especificidade, e que é à custa desse matizar da sociedade que se fazem as ideologias iliberais. É preciso não renegar o Mercado enquanto a ferramenta social que melhor conjuga e compatibiliza criação e consumo artístico!
Não queria misturar Cultura e criação artística, mas é lícito perguntar se a Cultura (que é o que nós somos) é a música clássica da Antena 2 (que eu gosto), A Praça da Alegria do Goucha na RTP, artes performativas experimentais ou consagradas...
PS- ainda tenho de responder a questões lá de cima, mas não tenho tempo -- e o meu blogue está parado!
8/11/05 15:53
ANtonio,
Acho que o debate e' frutuoso, e sinceramente nao antevejo que o consenso entre nos possa ir alem da "mutua compreensao das diferencas". Eu continuo a achar que a cultura e' de natureza diferente, mais do que haver externalidades ou nao. Se concordares, deixava os nossos comments a "marinar" um bocado e depois voltamos a isto com mais calma, boa?
8/11/05 15:59
Sobre a televisão pública, já tivémos as nossas turras :)
Mas em Inglaterra, berço do liberalismo ocidental moderno, acredito que a BBC faça parte da sua Cultura.
Por aqui, a RTP e RDP não se destinguem da concorrência -- precisamente porque não fazem parte da nossa Cultura— mas sim do nosso imaginário. A geração de hoje crescerá com a informação da SIC Notícias, os reality shows e telenovelas da TVI, a programação generalista da SIC... a informação "de bandeira" deixou de fazer sentido -- o Mercado desautorizou o serviço público...
António (o que faz "grrr") >)
8/11/05 16:00
Caro Tiago,
Concordo com a "mutua compreensão das diferenças"-- é só isso que peço! >)
E concordo com a marinação! :)
Um abraço,
António
8/11/05 16:02
"E concordo com a marinação! :)"
Optimo! "Ate' ja'" entao :)
Abraco,
8/11/05 16:25
Meus queridos, vai um chazinho e uns scones? a amabilidade deste "tasco" acima de tudo ;)
antónio, «Não queria misturar Cultura e criação artística» elas estão inevitavelmente misturadas, ou achas por um acaso que a criação artística não é cultura??
por mais absurdo que possa parecer as manifestações artísticas imateriais ou inapropriáveis (les arts vivants) são património, antónio, património cultural, acabam fazendo parte da nossa identidade.
estou a ser muito simplista e generalista nesta minha afirmação, mas com um pouco mais de tempo sustentarei melhor esta "teoria"
8/11/05 16:27
"Meus queridos, vai um chazinho e uns scones?"
:) :)
"manifestações artísticas imateriais ou inapropriáveis (les arts vivants) são património, antónio, património cultural"
Apoiado Alaide! Viva o Chapito!!!
PS: depois deste "sip", prometo manter a promessa de adiar o nosso "cha" para outras 5 o'clock ;)
8/11/05 16:32
(Eu não queria... mas cá vão mais achas para a fogueira!)
Claro que as arts vivants são património artístico, mas é património vivo, que vive e morre. Arte também é isso.
Eu não concordo com a correlação entre a liberdade de criação artística e liberdades económicas "positivas" (haver política cultural estatal de apoios à criação). Acho uma extrapolação de um conceito perigoso. Também me escapa uma definição de "serviços mínimos" de criação artística assegurados pelo Estado.
As arts vivants não devem ser deixadas viver e morrer sem intervenções políticas?
O que justifica que se crie, com subsídio e sem incentivo do mercado de consumo artístico? A Arte pode ter valor educacional, doutrinário, intervencionista -- mas e arte "pura"? E o que justifica que um projecto seja assegurado ou perpetuado quando cessou o interesse do seu público (ou melhor, quando o seu custo é artificialmente mantido baixo para compensar o seu valor em baixa)? Criação de públicos, satisfação de públicos criados, mérito?
A Arte pode ser Inútil (not my words), mas a Cultura, que a engloba, não é (as externalidades do Tiago). Por isso faço a distinção. Arte é quase puramente valor, e que o valor seja imposto por decreto ou subsídio contraria tudo o que penso...
De novo, não me considero um bronco >) Vejo-me muito interessado na Cultura e na criação artística, e por isso mesmo acredito que esta última sobreviverá e prosperará sem Estado (ou tanto Estado, demonstradas as excepções)...
E sobre a provocação acima, sim a democracia é a institucionalização do conflito, mas gerida pelos institucionalizadores. É por isso que o Monstro é tão grande. >)
9/11/05 14:14
«Claro que as arts vivants são património artístico» antónio, são património cultural! [aqui falo em cultura no seu sentido mais lato]
o 5º paragrafo, deixou-me confusa. não percebo o que dizes...
e se eu [e aqui estou a pessoalisar]te achasse um "bronco" [not my words] não estaria a debater o assunto contigo
9/11/05 15:19
Sim, se alguem aqui achasse que eras um "bronco" nao estavas a tomar mais outro cha das 5!
Acho a diferenciacao entre Arte e Cultura importante e interessante, mas nao concordo muito com o que dizes tambem...
De qualquer maneira, so' deixo mesmo este sip, que ando a atirar achas para fogueira noutro lado e isso consome-me totalmente :)
SE quiserem espereitar...
http://ometablog.blogspot.com/2005/11/quebrando-promessas.html
9/11/05 16:15
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