Pensamentos Subversivos
Numa noite particularmente bonita [e romanticamente ventosa] fui ver "Das Testament des Dr. Mabuse" (O testamento do Dr. Mabuse) [sim Luís, atravessei meia cidade debaixo de chuva torrencial durante a tarde, mas consegui o bilhete!]. A cada 50 frames uma das personagens puxava do cigarro (ou charuto) e fumava desesperadamente, como se fosse o último oxigénio, numa esquizofrenia libertária como já não existe. No filme "Good Night, and Good Luck" (Boa noite, e boa sorte) o ambiente da redação do programa de televisão é envolvido numa atmosfera musical perfeita [com muito swing] e numa bruma tabágica sublime. Era o tempo em que se podia fumar em público livremente, aliás, podia-se publicitar o tabaco sem quaisquer pudores.
Sinto saudades do tempo em fumar não matava*
[aL]
*nota de esclarecimento: declaração de ex-fumadora, que decidiu de forma livre e consciente deixar de fumar
Sinto saudades do tempo em fumar não matava*
[aL]
*nota de esclarecimento: declaração de ex-fumadora, que decidiu de forma livre e consciente deixar de fumar
escrito por aL a 12:35 da tarde
9 Pós e Contas:
Um texto muito inspirador, aLaíde, sinto que ainda estás sob o efeito do expressionismo e não seria de esperar outra coisa. E “fumar desesperadamente…numa esquizofrenia libertária”, é de uma beleza raramente vista na blogosfera (lembra o Deleuze, mas não é por causa da beleza).
Eu estou arrependido por não ter ido, ainda não me foi desta que vi O testamento do Dr. Mabuse no cinema. Afinal até estava uma noite bonita.
Como (por culpa própria) não me reencontrei com as subversões, preparo encontro, no próximo fds, com o argúcia do conservadorismo ( é preciso que mudar alguma coisa para que tudo permaneça como dantes; O Leopardo).
Fumaste um cigarro ao frio na noite ventosa? Seria uma homenagem ao Lang, e acima de tudo, um gesto subversivo. Libertário. Romântico ;)
5/3/06 14:51
Errata : "ainda não foi desta" o "me" está mais.
A argúcia e não "o".
São erros do Domingo.
5/3/06 14:55
« é de uma beleza raramente vista na blogosfera» Ó Luís que exagero... assim fico embaraçada.
«(lembra o Deleuze, mas não é por causa da beleza)» eis uma "comparação" que definitivamente não mereço...
O Leopardo já vi e revi. Já fantasiei ser uma Cláudia [a libertar-se do espartilho a cada inspiração de volúpia] conduzida [Oh! mais um romântismo, mais um sintoma de mulher mal emancipada!] por um magnífico Burt. Mas confesso que me deixo arrepiar mais com os gritos de Livia por Franz!
Quanto ao cigarro, meu querido, afirmei claramente que deixei de fumar. Mas não é razão suficiente para me "alistar" na brigada anti-tabaco...
5/3/06 16:22
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
5/3/06 18:02
Perdoa-me o tom um tanto ou quanto hiperbólico (mas gostei mesmo do texto, não fiques embaraçada).
A beleza do romantismo está a milhas de distância de qualquer processo de emancipação da mulher…
“…deixei de fumar”.
Era uma noite especial, uma ocasião para infringir a regra; daí não viria mal ao mundo.
5/3/06 18:08
luis, um esclarecimento: quando escrevi "conduzida" e comentei "mais um romântismo, mais um sintoma de mulher mal emancipada" pensei em 2 niveis diferentes que o conceito de "conduzir" poderá ter:
1."conduzida" no sentido de dança, e daí a ideia de romantismo e de grande intensidade que uma dança como a de claudia cardinale e de burt lancarter, no filme em questão, que é uma cena arrebatadora mas de grande contenção. aqui o romântismo aplica-se no sentido do amor quase platónico e inatingível/impossível entre os 2 personagens;
2. "conduzida" no sentido de dirigida, condicionada [nas suas escolhas]. e aqui uso o tewrmo contendo um significado muito específico de condicionalento de liberdades e opções (da mulher). e de certa forma esse meu "desejo" por ser conduzida poderá significar um sintoma que emancipação incompleta [que eu acho mais provável] ou então de total emancipação [que me permite optar livremente por me deixar conduzir... bom esta seria a condição ideal, mas é um pouco arriscado assumir-me a este nível de "libertação"]
Fico mesmo contente que tenhas gostado da imagem “fumar desesperadamente…numa esquizofrenia libertária” é o efeito que as grandes obras têm sobre a mais comum das pessoas... fazem-nos dizer [escrever, fazer...] coisas dignas dessa genialidade que nos toca...
quanto ao fumar... eu não tenho regras. tomei a decisão de deixar de fumar, e mantenho essa decisão... o Lang deu-me [dá-me] vontade de fazer muitas coisas, mas confesso que fumar não é uma delas... só comentei esta questão do tabaco, porque foi curioso que nos 2 filmes que vi naquela noite se fumasse despudoradamente, com um liberdade que já não existe....
;) mais uma vez obrigada pelo comentário hiperbolicamente simpático...
6/3/06 06:05
Fico feliz em saber que há pelo menos um raio de um canto algures neste miserável mundo onde fumar não faz parte dos dez pecados mortais (bom, seria o décimo primeiro) porque, sim, é verdade, eu FUMO!!!!!.
(tudo isto porque li o seu comentário no A Arte da Fuga e verifiquei que pelo menos nem todos estão loucos quando pensam que podem começar a enviar cartas digitais. Gostava de ver a minha avó de 99 anos a ir à internet ler o seu email. Ela teria sorte porque ainda sabe ler. Ás vezes pergunto a mim própria se quem dá estas ideias costuma viajar no Portugal profundo...)
7/3/06 23:10
nem mais Teresa! e creio não ser preciso ir ao Portugal Profundo para se constatar que há certas medidas que não fazem sentido, principalmente porque se excluem uma faixa [que é ainda considerável] de cidadãos que simplesmente não podem/sabem/gostam/querem usar as novas vias de comunicação.
Quanto ao tabaco, e digo isto enquanto ex-fumadora [que não foi atacada por um espirito anti-tabaco radical], parece-me completamente absurdas estas restrições e proibições de fumar...
8/3/06 01:35
Dizer duas coisas: O filme do Clooney foi dos melhores que vi ultimamente.
Quanto ao tabaco, julgo que as restrições só têm pecado por não obrigarem a "arranajar-se" um lugar decente para os fumadores (à porta dos edifícios da União Europeia em Bruxelas onde é proíbido fumar, amontoam-se funcionários ao frio invernal, chupando cigarros não pensativos mas enregelados)... porque de resto julgo que as restrições devem ser cumpridas. Estive em Espanha e senti uma melhoria considerável no conforto e na salubridade nos cafés e bares onde não se pode fumar e naqueles em que se pode também visto respeitarem agora os espaços exigidos.
Sou radical contra os radicais "não-fumadores" e contra os radicais "fumadores" :)...
8/3/06 11:07
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