Fim do trágico
Milan Kundera escreveu: "Conseguir libertar os grandes conflitos humanos da interpretação simplista de um combate do bem contra o mal e passar a compreendê-los à luz da tragédia, constituiu já um enorme êxito do espírito; a tragédia fez com que se manifestasse a fatal relatividade das verdades humanas e que se tornasse a sentir a necessidade de prestar justiça ao inimigo. Mas a vitalidade do maniqueísmo moral é invencível (...) o trágico abandonou-nos; e aí reside, talvez, o nosso verdadeiro castigo."
O abandono do trágico, sobretudo desde a Segunda Guerra, leva-nos a uma indiferença terrível. O que se passa no Médio Oriente é a prova viva dessa indiferença. Aqui deste lado, do nosso lado, procuram-se as tomadas de posições, é-se por uns, é-se contra os outros, explicam-se uns actos, desculpam-se outros, mas a verdade é que já não é trágico, perdemos essa noção e isso é catastrófico. As instituições tomam pseudo-posições, com declarações que já nos soam a rezas mil vezes repetidas, ocas e iguais de dia para dia. A diplomacia é uma sombra e os actos, as sanções, os envios de tropas, os mísseis... tudo isso, é nada, tudo isso é monótono... hoje está a chover.
lipemarujo
escrito por Filipe a 1:25 da tarde
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