Marcar posição
Esta quarta, o mesmo jornal, publica também, em destaque na primeira página e desenvolvimento nas página 2 e 3 (mais 12 páginas num suplemento), uma entrevista com Tom Barman, vocalista da banda dEUS, que dá cara pelo movimento 0110 (lê-se zero um dez). Movimento esse pela tolerância e contra o racismo, o extremismo e a violência gratuita. O cantor belga, flamego de Antuérpia, ataca sobretudo o Vlaams Belang (partido de extrema direita flamengo). Em forma de comentário, o jornal Le Soir apoia o movimento e as palavras de Barman, "O combate dele (de Barman) é o nosso no Soir. Contra todas as formas de intolerância, fazemos questão em relembrar regularmente os princípios que figuram na nossa carta de jornalista".
Temos, portanto, um diário na Bélgica, totalmente independente de poderes e partidos que marca uma posição clara numa questão política, 100% política. No dia 8 de Outubro a Bélgica vai a eleições comunais (equivalentes a autárquicas), e quer na Flandres com o Vlaams Belang, quer na Valónia com o Front National, existe uma grande incógnita sobre os possíveis resultados destes dois partidos de extrema-direita, e o diário belga assume o combate contra não uma ideologia (que isso é fácil fazer) mas sim contra dois partidos políticos.
escrito por Filipe a 11:30 da tarde
5 Pós e Contas:
O Spiegel Online (versão inglesa) tem um artigo sobre a filha de Le Pen - pessoalmente, estou preocupada com o crescimento dos partidos de extrema direita em vários países europeus.
28/9/06 12:01
A pergunta que coloco no fim se calhar não foi suficientemente clara. Ela é dirigida para o facto de um jornal marcar posição numa questão política tão claramente. seria possível em Portugal um dos principais jornais, editorialmente marcar uma posição assim? que tipo de reacções suscitaria?
28/9/06 12:35
lipe, isso é muito claro que é impossível acontecer. basta ler os editoriais dos principais jornais, para perceber que apesar de tudo as direcções são muito cuidadosas. Com uma ou outra excepção [no mercado editorial], não há espaço para posições políticas fortes. há algum receio de perda de quota de mercado...
em portugal, basta um editorial apoiar - ou melhor aceitar e compreender - por exemplo a ida de militares portugueses para o iraque para cair o carmo e a trindade.
a comunicação social portuguesa ainda está muito engajada, o qu é uma pena, porque é com o confronto de ideias que social e politicamente as pessoas e a comunidade onde se inserem podem evoluir!!
28/9/06 12:47
Exactamente, e esse confronto perde força quando nele não entram os editoriais. Os jornais, com o seu espaço de opinião, tentam levar esse confronto para dentro de um jornal, temos comentadores de vários quadrantes num mesmo jornal. No sol por exemplo até temos um Sol de esquerda, admira-me como não há um sol de direita...
Os editoriais são generalistas, não se implicam. Talvez José Manuel Fernandes (que eu até nem aprecio) com as suas posições face ao Iraque e ao EUA tivesse sido a excepção, mas viu-se o tipo de reacções que criou.
28/9/06 13:11
Bem, esta notícia caiu que nem bomba na minha cabeça!
É que estou, por uma vez completamente dividida. Acho espectacular a posição do Le Soir, porque concordo com a maioria das notícias. Por outro lado, aflige-me a implicação uma uma notícia destas: cada vez me parece mais difícil ter notícias factuais por parte dos media de hoje. Se um jornal se posiciona tão claramente, as implicação para as notícias serem enviezadas são bastante transparentes...
(Bem, não deixo de achar linda a ideia dos autocolantes.)
29/9/06 20:24
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