Ainda a Bélgica
O João Vacas no 31 da Armada escreveu um post sobre o programa que a televisão francófona na Bélgica lançou para o ar sobre uma suposta declaração unilateral de independência da Flandres. Assunto que eu brevemente descrevi aqui no blogue. Ora, como João Vacas não permite comentários aos seus artigos no 31, obriga-me a escrever um post, porque diz coisas que merecem de facto comentário.
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João Vacas fala do "carácter artificial" do país que é a Bélgica. João Vacas esquece que todos os países são artificiais. A Bélgica é um país com duas nações, perceber este ponto é fundamental para se perceber o resto. Duas nações muito diferentes, a língua sendo o maior espelho das diferenças, que decidiram viver em conjunto. E este ponto também é muito importante, a decisão de viver em conjunto.
João Vacas descreve algumas das acusações "clichés" que ambas as regiões atiram uma à outra mas esqueceu-se de ver se têm razão ou não de ser e que implicações têm de facto na vida dos belgas. É inegável que a Flandres é mais empreendedora, mais forte economicamente, mais activa cultural e socialmente do que a Valónia. É inegável que os flamengos na maioria falam o francês e que o contrário não se verifica. Ora estes dois factores criam obviamente, juntando ainda ao estigma da História (onde os flamengos foram explorados por uma elite francófona), criam, dizia eu, tensões entre as duas regiões. E para que a coisa seja ainda mais complicada a questão de Bruxelas (que é região, como a Flandres e a Valónia, e que geograficamente está na Flandres mas que a maioria dos habitantes fala francês) reforça essas tensões.
Mas João Vacas esqueceu algo. A esmagadora maioria dos belgas quer continuar a sê-lo, não desejam a independência da sua região, a única coisa que querem é um estado belga a funcionar melhor. Nada mais que isto. Mas sabem que para isso acontecer as regiões e o papel que têm de desempenhar é fundamental.O exemplo que João Vacas dá do estudante Erasmus valão em Coimbra que diz ter de falar inglês com um seu compatriota flamengo, é de facto elucidativo. Mas aposto que isso só acontece porque o valão não fala flamengo, e claro que por isso o flamengo que até fala francês não cede. É uma questão de justiça cultural, esse é o desafio da Bélgica para o seu futuro e foi isso que o programa da RTBF teve a coragem de trazer à luz.
lipemarujo
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João Vacas fala do "carácter artificial" do país que é a Bélgica. João Vacas esquece que todos os países são artificiais. A Bélgica é um país com duas nações, perceber este ponto é fundamental para se perceber o resto. Duas nações muito diferentes, a língua sendo o maior espelho das diferenças, que decidiram viver em conjunto. E este ponto também é muito importante, a decisão de viver em conjunto.
João Vacas descreve algumas das acusações "clichés" que ambas as regiões atiram uma à outra mas esqueceu-se de ver se têm razão ou não de ser e que implicações têm de facto na vida dos belgas. É inegável que a Flandres é mais empreendedora, mais forte economicamente, mais activa cultural e socialmente do que a Valónia. É inegável que os flamengos na maioria falam o francês e que o contrário não se verifica. Ora estes dois factores criam obviamente, juntando ainda ao estigma da História (onde os flamengos foram explorados por uma elite francófona), criam, dizia eu, tensões entre as duas regiões. E para que a coisa seja ainda mais complicada a questão de Bruxelas (que é região, como a Flandres e a Valónia, e que geograficamente está na Flandres mas que a maioria dos habitantes fala francês) reforça essas tensões.
Mas João Vacas esqueceu algo. A esmagadora maioria dos belgas quer continuar a sê-lo, não desejam a independência da sua região, a única coisa que querem é um estado belga a funcionar melhor. Nada mais que isto. Mas sabem que para isso acontecer as regiões e o papel que têm de desempenhar é fundamental.O exemplo que João Vacas dá do estudante Erasmus valão em Coimbra que diz ter de falar inglês com um seu compatriota flamengo, é de facto elucidativo. Mas aposto que isso só acontece porque o valão não fala flamengo, e claro que por isso o flamengo que até fala francês não cede. É uma questão de justiça cultural, esse é o desafio da Bélgica para o seu futuro e foi isso que o programa da RTBF teve a coragem de trazer à luz.
ps- e não tenhamos ilusões, a Bélgica é um pequeno exemplo, o nosso vizinho é um exemplo bem maior e bem mais delicado. Mas há poucos anos a Europa assistiu a um processo positivo e pacífico de uma desunião com a antiga Checoslováquia.
lipemarujo
escrito por Filipe a 4:38 da tarde
1 Pós e Contas:
O assunto não necessita de grandes análises: a Bélgica não tem razão de existir, o país criou-se há 176 anos de um modo fortuito, valões e flamengos não têm qualquer tipo de identidade nacional comum. Os que já viram cair alguns muros ( de berlim , do vietman, do Maputo) verão um dia cair o muro de Bruxelas. É só isso, meu amigo. Mas podemos todos gritar bem alto " NO PASSARAN ! " se por isso ficarmos de consciência mais tranquila.
17/12/06 22:48
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