Mestre
Há personagens que são especiais. São-no porque é evidente que o sejam. E o que parece ser uma redundância passa-nos muitas vezes ao lado. Manoel de Oliveira é especial. Não é por ter 98 anos e fazer filmes a um ritmo impressionante. É especial porque se deixarmos alguns preconceitos de lado (a começar por mim) a obra dele torna-o especial. Temos o defeito de pensar que os filmes deles são chatos. Mas se formos honestos nunca vimos mais que um ou dois (ou nenhum) dos filmes dele. Somos capazes de ir ver filmes de Hollywood, chatos, foleiros e maus mas do homem não vamos.
###Acabo de chegar de duas entrevistas a Manoel de Oliveira em que servi de intérprete. É mais baixo do que pensava, não sei porquê tinha ideia de que era um tipo bem alto. De bengala que nem serve tanto para se apoiar mas antes para desenhar gestos no ar como um sabre, entrou pelo hall do hotel Astoria onde estava hospedado com pilhas na mão. Tinha saído para ir comprar pilhas para um pequeno relógio despertador.
Subimos para o quarto e jornalista, eu e fotógrafo instalámo-nos nuns cadeirões numa pequena sala.
Falou-se de cinema obviamente e do novo filme "Belle toujours" onde Oliveira retoma dois personagens de um filme de Buñuel e os faz reencontrar 40 anos depois.
Falou-se de cinema obviamente e do novo filme "Belle toujours" onde Oliveira retoma dois personagens de um filme de Buñuel e os faz reencontrar 40 anos depois.
O mais impressionante é as referências a escritores, realizadores, pintores, jornalistas, psicólogos, filósofos que saltam da boca do homem. No fundo, fala das pessoas que encontrou ou leu ou viu durante a vida, é que 98 anos dá para conhecer muita gente.
Perdemos a noção do que significam 98 anos até ao momento em que o ouvimos falar de décadas, de o vermos a explicar a travessia por tudo aquilo que foi o século XX no cinema e nas artes.
Hoje, estive ao lado de umas das figuras mais importantes da cultura portuguesa, não tenho dúvidas.
Perdemos a noção do que significam 98 anos até ao momento em que o ouvimos falar de décadas, de o vermos a explicar a travessia por tudo aquilo que foi o século XX no cinema e nas artes.
Hoje, estive ao lado de umas das figuras mais importantes da cultura portuguesa, não tenho dúvidas.
Preocupado com ele próprio, não abdica de uma ética no seu cinema. Os artistas, diz ele, mostram os resultados dos políticos, bons ou maus. Explica Oliveira que não se trata de crítica directa, trata-se de mostrar, o cinema dele é isso mesmo, um reflexo da vida, e acabe a cada um julgar.
O seu vício é mostrar o que lhe toca, e aprendeu a fazê-lo pelo cinema, a sua idade é fruto do acaso e não o incomoda que seja mais conhecido pela idade do que pelos filmes, porque diz ele, os filmes terão um dia muitíssimos mais anos do que ele.
lipemarujo
escrito por Filipe a 1:14 da tarde
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