Portugal goes Nuclear IV
Ontem o barril do brent atingiu o valor record de $62,47, é possível que entretanto este record já tenha sido batido. Soube-se ontem, também, que houve um aumento em Portugal, das emissões de CO2 para a atmosfera, aumento esse, relacionado com o consumo de combustível fóssil para produção de energia eléctrica.
Há cerca de um mês e meio atrás, confesso que não sabia quase nada sobre energia nuclear, e olhava para esta solução com grandes preconceitos ecologistas. No entanto, penso que só se pode optar – e expor - de forma consciente quando estamos devidamente informados.
Desta forma tentei de forma rápida aceder à informação que precisava. Devido ao escasso tempo de que dispus, posso estar a cair em algumas ratoeiras. Mas como este tema – o das alternativas energéticas – é um tema que me interessa particularmente, terei oportunidade de corrigir informações e/ou opiniões caso seja necessário.
Após a leitura de um excerto de um estudo da autoria de Marques Carvalho (Director do Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear durante os anos 90), pude perceber que o ciclo de processamento da energia nuclear não é tão simples e tão rápido quando nos é dado a entender – e aqui não estou a referir-me às questões técnicas e cientificas, porque obviamente não possuo competência académica para o discutir – e que o trabalho efectuado numa central nuclear é a finalização de um processo bastante complicado e dispendioso, do ciclo do combustível nuclear. A saber:
1. Mina e tratamento do minério: a mineração do urânio é desenvolvida em Portugal há várias décadas. Os riscos dominantes nestas actividades são idênticos aos riscos da mineração e tratamento de minérios, tais como os acidentes envolvendo trabalhadores; a inalação de poeiras e no caso de minérios radiactivos a inalação do radão, o que obriga a uma maior ventilação das galerias nas minas subterrâneas. Em Portugal as minas existentes são a céu aberto tornando o risco menor quando comparado com os riscos que corre um fumador que consuma um maço de tabaco por dia (!);
2. Conversão: transformação química para passar o urânio em pó na forma de óxido para a forma hexafluoreto, ou seja para o estado gasoso. O principal risco é o da libertação acidental de hexafluoreto e pela presença de flúor, ou seja, um agente corrosivo tóxico. Este risco atinge apenas os trabalhadores destas unidades. Não existem unidades para conversão na Península Ibérica;
3. Enriquecimento: operação física (difusão, centrifugação, etc.) pela qual a proporção entre os isótopos naturais do urânio é alterada, por forma a melhorar a capacidade para iniciar e manter a reacção de cisão em cadeia. Acumulando cilindros com hexafluoreto de urânio, depois de enriquecido, seria possível, em tese, obter acidentalmente uma reacção em caso de inundação. Por essa razão as dimensões, formas, desenho e implantação das áreas de armazenamento são calculadas para que tais ocorrências sejam impossíveis. Não é rentável estabelecer uma fabrica de enriquecimento na Península Ibérica;
4. Reconversão: como o combustível para as centrais deverá apresentar-se na forma de um óxido estável é preciso transformar quimicamente o hexafluoreto. Não envolve riscos diferentes da etapa de enriquecimento;
5. Fabrico do combustível: produto encapsulado em tubos de grande precisão dimensional feitos com materiais de muita elevada pureza química, uma vez que a “queima” vai produzir-se por um “gás” de neutrões cuja densidade é controlada com elevada precisão e não pode ser sujeita à aleatoriedade de impurezas e variações dimensionais. Os riscos nesta fase são pequenos e praticamente confinados aos trabalhadores. Não há mecanismos físicos capazes de espontaneamente dispersar os produtos fracamente radioactivos que são manipulados. Existe uma fábrica de combustível perto de Salamanca;
6. Central nuclear: é aqui que se estabelecem as condições físicas para manter uma reacção de cisão em cadeia, da qual se extrai energia que, após várias transformações, é utilizada sob a forma de calor ou energia eléctrica. Os problemas sérios com as centrais nucleares são os acidentes. Nas piores condições fisicamente imagináveis, as libertações bruscas de energia nada têm de similar às explosões nucleares, sendo que nestas situações são desencadeados planos de emergência, estudados previamente, para proteger as populações da vizinhança imediata das instalações e minorar as consequências sobre a contaminação do território. Na Europa Ocidental existem mais de 150 unidades;
7. Armazenamento do combustível irradiado (queimado): como o combustível irradiado contém elevadíssimas concentrações de radioisótopos, é altamente radioactivo e tem de ser manipulado à distância. É usual armazenar este combustível, durante anos num edifício junto ao reactor, para depois transferi-lo para as instalações de reprocessamento, ou se não houver interesse no reprocessamento, é armazenado de forma temporária. Os riscos desta fase são pequenos, no entanto há o risco de escapes radioactivos, se uma manobra causar dano mecânico às varas. O risco é essencialmente para os trabalhadores da instalação;
8. Reprocessamento: conjunto de operações mecânicas e químicas, que se destinam a separar os elementos presentes no combustível irradiado. Em matéria de riscos as instalações de reprocessamento são as mais poluentes de todo o ciclo de combustível. O principal problema é o da carga radioisotópica dos seus efluentes, quer líquidos, quer gasosos, que são 100 vezes superiores aos de qualquer central nuclear. Na Europa Ocidental existem 2 instalações desta natureza, uma em França, outra no Reino Unido;
9. Depósitos de resíduos: grande variedade de radioisótopos, desde os que têm períodos de semi-desintregração de alguns minutos ou horas, ate aos que exibem semi-vidas de centenas de milhares de anos. Sempre que a perigosidade de uma substância resultar das propriedades físicas dos seus constituintes elementares a única forma eliminação é a transmutação nuclear. No entanto, este processo não se afigura com custo aceitáveis, assim o termo “eliminação” é relativizado, significando isolar da biosfera. Para resíduos de baixa actividade bastará uma estrutura confinante com uma vida da ordem dos 300 anos. Para resíduos de alta actividades, os períodos de confinamento necessários terão de atingir cerca de 1 milhão de anos. Ainda não existem instalações definitivas de armazenamento para resíduos de alta actividade.
Há cerca de um mês e meio atrás, confesso que não sabia quase nada sobre energia nuclear, e olhava para esta solução com grandes preconceitos ecologistas. No entanto, penso que só se pode optar – e expor - de forma consciente quando estamos devidamente informados.
Desta forma tentei de forma rápida aceder à informação que precisava. Devido ao escasso tempo de que dispus, posso estar a cair em algumas ratoeiras. Mas como este tema – o das alternativas energéticas – é um tema que me interessa particularmente, terei oportunidade de corrigir informações e/ou opiniões caso seja necessário.
Após a leitura de um excerto de um estudo da autoria de Marques Carvalho (Director do Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear durante os anos 90), pude perceber que o ciclo de processamento da energia nuclear não é tão simples e tão rápido quando nos é dado a entender – e aqui não estou a referir-me às questões técnicas e cientificas, porque obviamente não possuo competência académica para o discutir – e que o trabalho efectuado numa central nuclear é a finalização de um processo bastante complicado e dispendioso, do ciclo do combustível nuclear. A saber:
1. Mina e tratamento do minério: a mineração do urânio é desenvolvida em Portugal há várias décadas. Os riscos dominantes nestas actividades são idênticos aos riscos da mineração e tratamento de minérios, tais como os acidentes envolvendo trabalhadores; a inalação de poeiras e no caso de minérios radiactivos a inalação do radão, o que obriga a uma maior ventilação das galerias nas minas subterrâneas. Em Portugal as minas existentes são a céu aberto tornando o risco menor quando comparado com os riscos que corre um fumador que consuma um maço de tabaco por dia (!);
2. Conversão: transformação química para passar o urânio em pó na forma de óxido para a forma hexafluoreto, ou seja para o estado gasoso. O principal risco é o da libertação acidental de hexafluoreto e pela presença de flúor, ou seja, um agente corrosivo tóxico. Este risco atinge apenas os trabalhadores destas unidades. Não existem unidades para conversão na Península Ibérica;
3. Enriquecimento: operação física (difusão, centrifugação, etc.) pela qual a proporção entre os isótopos naturais do urânio é alterada, por forma a melhorar a capacidade para iniciar e manter a reacção de cisão em cadeia. Acumulando cilindros com hexafluoreto de urânio, depois de enriquecido, seria possível, em tese, obter acidentalmente uma reacção em caso de inundação. Por essa razão as dimensões, formas, desenho e implantação das áreas de armazenamento são calculadas para que tais ocorrências sejam impossíveis. Não é rentável estabelecer uma fabrica de enriquecimento na Península Ibérica;
4. Reconversão: como o combustível para as centrais deverá apresentar-se na forma de um óxido estável é preciso transformar quimicamente o hexafluoreto. Não envolve riscos diferentes da etapa de enriquecimento;
5. Fabrico do combustível: produto encapsulado em tubos de grande precisão dimensional feitos com materiais de muita elevada pureza química, uma vez que a “queima” vai produzir-se por um “gás” de neutrões cuja densidade é controlada com elevada precisão e não pode ser sujeita à aleatoriedade de impurezas e variações dimensionais. Os riscos nesta fase são pequenos e praticamente confinados aos trabalhadores. Não há mecanismos físicos capazes de espontaneamente dispersar os produtos fracamente radioactivos que são manipulados. Existe uma fábrica de combustível perto de Salamanca;
6. Central nuclear: é aqui que se estabelecem as condições físicas para manter uma reacção de cisão em cadeia, da qual se extrai energia que, após várias transformações, é utilizada sob a forma de calor ou energia eléctrica. Os problemas sérios com as centrais nucleares são os acidentes. Nas piores condições fisicamente imagináveis, as libertações bruscas de energia nada têm de similar às explosões nucleares, sendo que nestas situações são desencadeados planos de emergência, estudados previamente, para proteger as populações da vizinhança imediata das instalações e minorar as consequências sobre a contaminação do território. Na Europa Ocidental existem mais de 150 unidades;
7. Armazenamento do combustível irradiado (queimado): como o combustível irradiado contém elevadíssimas concentrações de radioisótopos, é altamente radioactivo e tem de ser manipulado à distância. É usual armazenar este combustível, durante anos num edifício junto ao reactor, para depois transferi-lo para as instalações de reprocessamento, ou se não houver interesse no reprocessamento, é armazenado de forma temporária. Os riscos desta fase são pequenos, no entanto há o risco de escapes radioactivos, se uma manobra causar dano mecânico às varas. O risco é essencialmente para os trabalhadores da instalação;
8. Reprocessamento: conjunto de operações mecânicas e químicas, que se destinam a separar os elementos presentes no combustível irradiado. Em matéria de riscos as instalações de reprocessamento são as mais poluentes de todo o ciclo de combustível. O principal problema é o da carga radioisotópica dos seus efluentes, quer líquidos, quer gasosos, que são 100 vezes superiores aos de qualquer central nuclear. Na Europa Ocidental existem 2 instalações desta natureza, uma em França, outra no Reino Unido;
9. Depósitos de resíduos: grande variedade de radioisótopos, desde os que têm períodos de semi-desintregração de alguns minutos ou horas, ate aos que exibem semi-vidas de centenas de milhares de anos. Sempre que a perigosidade de uma substância resultar das propriedades físicas dos seus constituintes elementares a única forma eliminação é a transmutação nuclear. No entanto, este processo não se afigura com custo aceitáveis, assim o termo “eliminação” é relativizado, significando isolar da biosfera. Para resíduos de baixa actividade bastará uma estrutura confinante com uma vida da ordem dos 300 anos. Para resíduos de alta actividades, os períodos de confinamento necessários terão de atingir cerca de 1 milhão de anos. Ainda não existem instalações definitivas de armazenamento para resíduos de alta actividade.
Para mais informações: http://www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_D_9142_1_0001.htm
escrito por aL a 9:41 da manhã
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