"O meu carácter é tal que eu detesto o princípio e o fim das coisas, pois são pontos definidos. A ideia de se encontrar uma solução para os mais elevados, mais nobres, problemas da ciência, da filosofia, aflige-me; a ideia de que algo possa ser determinado sobre Deus ou sobre o mundo horroriza-me. Que as coisas mais importantes se realizem, que todos os homens venham um dia a ser felizes, que se descubra uma solução para os males da sociedade, só imaginá-lo enlouquece-me. Contudo, não sou mau nem cruel; sou louco, e isso de um modo difícil de conceber"
2Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste na aversão, no horror, na incapacidade, que impregnam tudo o que sou, física e mentalmente, de actos decisivos, de pensamentos definidos. Nunca tomei uma resolução nascida do autodomínio, nunca dei sinais exteriores de uma vontade consciente. Nenhum dos meus escritos foi concluído; sempre se interpuseram novos pensamentos, associações de ideias extraordinárias, impossíveis de excluir, com o infinito como limite. Não consigo evitar a aversão que tem o meu pensamento pelo acto de acabar seja o que for. Uma única coisa suscita dez mil pensamentos, e desses dez mil pensamentos surgem dez mil inter-associações, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central, onde os seus detalhes sem importância, mas a eles associados, possam perder-se. Passam dentro de mim; não são pensamentos meus, mas pensamentos que passam dentro de mim. Não reflicto, sonho; não estou inspirado, deliro."
"Tenho trinta e oito anos e sinto-me mais novo cada ano, porque todos os anos estou mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida. A realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Só a falta de objectivos e um modo de vida inconsequente - se a palavra «modo» pode ser aplicada a uma tal ausência de rumo - nos mantêm jovens."
... pois... só que apesar disso, o homem deixou-nos uma obra sem preço... mesmo se é fragmentada, difusa e até instável... nunca deixou de arquitectar uma literatura única e isso exigiu dedicação de corpo e alma...
3 Pós e Contas:
Grande verdde, grande livro.
O que me sugere estas citacoes de PEssoa:
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/01/pessoalismos-16-escritos_18.html
"O meu carácter é tal que eu detesto o princípio e o fim das coisas, pois são pontos definidos. A ideia de se encontrar uma solução para os mais elevados, mais nobres, problemas da ciência, da filosofia, aflige-me; a ideia de que algo possa ser determinado sobre Deus ou sobre o mundo horroriza-me. Que as coisas mais importantes se realizem, que todos os homens venham um dia a ser felizes, que se descubra uma solução para os males da sociedade, só imaginá-lo enlouquece-me. Contudo, não sou mau nem cruel; sou louco, e isso de um modo difícil de conceber"
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/01/pessoalismos-20-escritos.html
2Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste na aversão, no horror, na incapacidade, que impregnam tudo o que sou, física e mentalmente, de actos decisivos, de pensamentos definidos. Nunca tomei uma resolução nascida do autodomínio, nunca dei sinais exteriores de uma vontade consciente. Nenhum dos meus escritos foi concluído; sempre se interpuseram novos pensamentos, associações de ideias extraordinárias, impossíveis de excluir, com o infinito como limite. Não consigo evitar a aversão que tem o meu pensamento pelo acto de acabar seja o que for. Uma única coisa suscita dez mil pensamentos, e desses dez mil pensamentos surgem dez mil inter-associações, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central, onde os seus detalhes sem importância, mas a eles associados, possam perder-se. Passam dentro de mim; não são pensamentos meus, mas pensamentos que passam dentro de mim. Não reflicto, sonho; não estou inspirado, deliro."
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/02/pessoalismos-35-escritos.html
"Tenho trinta e oito anos e sinto-me mais novo cada ano, porque todos os anos estou mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida. A realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço; o preço da realização é a perda da juventude. Só a falta de objectivos e um modo de vida inconsequente - se a palavra «modo» pode ser aplicada a uma tal ausência de rumo - nos mantêm jovens."
6/3/06 11:03
... pois... só que apesar disso, o homem deixou-nos uma obra sem preço... mesmo se é fragmentada, difusa e até instável... nunca deixou de arquitectar uma literatura única e isso exigiu dedicação de corpo e alma...
6/3/06 12:13
Sim, não era num sentido pejorativo, era apenas para diferenciar... porque também há obras sem preço que são unas, alicerçadas e estáveis...
8/3/06 10:58
Enviar um comentário
<< Home