Leituras
Estou a ler Candide de Voltaire. Há anos que o livro espreitava na biblioteca do meu pai. Sabia vagamente que falava de Lisboa e do terramoto de 1755 mas não sabia que era uma obra repeta de humor, sarcasmo e ironia. Um quê de D. Quixote no livro, desde a apresentação dos capítulos com pequenos títulos descritivos ao personagem, o próprio Candide, que não sofrendo de um delírio activo como o Cavaleiro Andante de Cervantes, pode dizer-se que sofre de um delírio apático que o leva a uma mesma ingenuidade. Ainda vou no início mas dá para perceber que Voltaire não poupa o "optimismo" (como filosofia) do seu tempo, herança das "Luzes". Confronta esse optimismo com as tragédias que devastam a Europa, desde as guerras, aos desastres naturais, até à degradação dos valores por parte dos fazedores de moral.Deixo alguns excertos deliciosamente irónicos e sarcásticos. A tradução é minha, perdoem-me a ousadia.
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" Um dia, Cunégonde, passeando perto do castelo no pequeno bosque ao qual chamavam parc, vira entre uns arbustos o doutor Pangloss dando uma aula de física experimental à camareira da sua mãe, uma pequena morena muito bonita e muito dócil. Como a menina Cunégonde tinha muito jeito para as ciências, observara, sem respirar, as experiências reiteradas das quais era testemunha; ela vira claramente a razão primordial (conceito filosófico de Leibniz, não verifiquei a tradução correcta mas julgo que a ideia mantém-se que é o que importa neste excerto) do doutor, os efeitos e as causas, e partira agitada, pensativa, repleta de vontade em ser sábia, sonhando que poderia ser ela própria a razão primordial do jovem Candide, que por seu lado poderia ser também ele a dela."
"- Infelizmente ,disse Candide, conheci-o esse amor, esse rei dos corações, essa alma da nossa alma; ele apenas me valeu um beijo e vinte pontapés no cu."
" ... provei dos braços dela as delícias do paraíso que produziram estes tormentos infernais dos quais me vêdes ser devorado; ela estava infectada, talvez tenha morrido disso. Paquette tinha recebido esse presente dum franciscano muito sábio que tinha revelado a origem; pois ele recebera a infecção de uma velha condessa, que recebere-a de um capitão de cavalaria, que a tivera de uma marquesa, que lhe provinha de um pajem, que a recebera de um jesuíta, que, sendo noviço, contraíra-a em linhagem directa de um dos companheiros de Cristóvão Colombo. Eu não a passarei a ninguém pois estou a morrer."
lipemarujo
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" Um dia, Cunégonde, passeando perto do castelo no pequeno bosque ao qual chamavam parc, vira entre uns arbustos o doutor Pangloss dando uma aula de física experimental à camareira da sua mãe, uma pequena morena muito bonita e muito dócil. Como a menina Cunégonde tinha muito jeito para as ciências, observara, sem respirar, as experiências reiteradas das quais era testemunha; ela vira claramente a razão primordial (conceito filosófico de Leibniz, não verifiquei a tradução correcta mas julgo que a ideia mantém-se que é o que importa neste excerto) do doutor, os efeitos e as causas, e partira agitada, pensativa, repleta de vontade em ser sábia, sonhando que poderia ser ela própria a razão primordial do jovem Candide, que por seu lado poderia ser também ele a dela."
"- Infelizmente ,disse Candide, conheci-o esse amor, esse rei dos corações, essa alma da nossa alma; ele apenas me valeu um beijo e vinte pontapés no cu."
" ... provei dos braços dela as delícias do paraíso que produziram estes tormentos infernais dos quais me vêdes ser devorado; ela estava infectada, talvez tenha morrido disso. Paquette tinha recebido esse presente dum franciscano muito sábio que tinha revelado a origem; pois ele recebera a infecção de uma velha condessa, que recebere-a de um capitão de cavalaria, que a tivera de uma marquesa, que lhe provinha de um pajem, que a recebera de um jesuíta, que, sendo noviço, contraíra-a em linhagem directa de um dos companheiros de Cristóvão Colombo. Eu não a passarei a ninguém pois estou a morrer."
lipemarujo
escrito por Filipe a 11:57 da tarde
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