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quarta-feira, janeiro 03, 2007
Citações CXLV
Sem a invasão de 2003, Saddam seria hoje, não o mártir dos sunitas iraquianos, mas o grande líder que desafiara impunemente os EUA, pronto talvez para novas aventuras de grandeza.[...] Quase certamente, um Saddam livre do colete-de-forças da ONU teria tentado recuperar a soberania sobre todo o território. Não teria sido menos sangrento.
Nenhuma solução, em 2003, era obviamente melhor. Tal como hoje. De facto, uma das poucas coisas óbvias no mundo é que quase nada é "óbvio". É por isso que é preciso escolher, e é por isso que todas as escolhas são controversas [...] Nunca houve uma época em que o contrário fosse o caso. Nem haverá. [bold meu]
Rui Ramos, in Público [link directo indisponível] 2007/01/03
"Sem a invasão de 2003, Saddam seria hoje, não o mártir dos sunitas iraquianos,mas o grande líder que desafiara impunemente os EUA"
Não porque ele já tinha cedido a várias exigências dos EUA (p.ex., os inspectores da ONU já tinham regressado ao Iraque), logo não iria surgir como um "vencedor".
Na verdade, seria mais fácil Saddam ter saído como vencedor de uma crise que houve em 1998 (quando os inspectores sairam do Iraque), e no entanto, ele não reconquistou o Curdistão nessa altura.
Miguel, os inspectores voltaram ao Iraque mas foram sendo impedidos de fazer o seu trabalho. Portanto, foi uma acção muito pouco cooperante e bastante suspeita...
Mas claro, que isto não passa de uma suposição, e que a informação de que dispomos agora não é a mesma que em 2003, logo as decisões são condicionadas por pressupostos diferentes.
O Iraque, depauperado por anos de sanções, era à época uma sociedade em regressão nos seus padrões de desenvolvimento. Dificil/ poderia ser visto como uma ameaça (nem era percebido como tal pelos seus vizinhos, que na sua maioria se opuseram à invasão; vide a posição da Arábia Saudita por exemplo). Aliás, o que restava do programa de armas de destruição do ditador foi desmantelado no período que se seguiu à primeira guerra do Golfo, como conta o antigo inspector Scott Ritter (americano e republicano por sinal. Os EUA e o Reino Unido procuraram fazer das inspecções da ONU um instrumento de humilhação política de Saddam Hussein. Era evidente que este não podia ceder a tudo, sob pena de perder a face perante os seus. Ficou assim entre o exílio e a morte. Escolheu esta última. Agora, razões para a invasão americana não havia, e era difícil ver à época que benefício político podiam os EUA retirar dela. Foram muitos os que avisaram para o desastre anunciado, e longe de se situarem todos no espectro da esquerda ou extrema esquerda. Não é verdade que em 2003 os EUA estivessem confrontados com uma decisão espinhosa no que diz respeito ao Iraque (o Irão era já a potência em ascensão na região, pelo menos desde a primeira guerra do Golfo). Era evidente que qualquer intervenção americana naqueles moldes iria, além de minar as bases frágeis em que assentava a coesão nacional iraquiana, provocar um profundo desequilíbrio na região, naturalmente aproveitado pela República Islâmica do Irão. Em suma, a argumentação do historiador Rui Ramos não colhe, parece-me mais fundada numa ética da convicção (no sentido weberiano). Só que a vontade (a dos americanos) nem tudo pode; e pode cada vez menos).
3 Pós e Contas:
"Sem a invasão de 2003, Saddam seria hoje, não o mártir dos sunitas iraquianos,mas o grande líder que desafiara impunemente os EUA"
Não porque ele já tinha cedido a várias exigências dos EUA (p.ex., os inspectores da ONU já tinham regressado ao Iraque), logo não iria surgir como um "vencedor".
Na verdade, seria mais fácil Saddam ter saído como vencedor de uma crise que houve em 1998 (quando os inspectores sairam do Iraque), e no entanto, ele não reconquistou o Curdistão nessa altura.
3/1/07 23:19
Miguel, os inspectores voltaram ao Iraque mas foram sendo impedidos de fazer o seu trabalho. Portanto, foi uma acção muito pouco cooperante e bastante suspeita...
Mas claro, que isto não passa de uma suposição, e que a informação de que dispomos agora não é a mesma que em 2003, logo as decisões são condicionadas por pressupostos diferentes.
3/1/07 23:25
O Iraque, depauperado por anos de sanções, era à época uma sociedade em regressão nos seus padrões de desenvolvimento. Dificil/ poderia ser visto como uma ameaça (nem era percebido como tal pelos seus vizinhos, que na sua maioria se opuseram à invasão; vide a posição da Arábia Saudita por exemplo).
Aliás, o que restava do programa de armas de destruição do ditador foi desmantelado no período que se seguiu à primeira guerra do Golfo, como conta o antigo inspector Scott Ritter (americano e republicano por sinal.
Os EUA e o Reino Unido procuraram fazer das inspecções da ONU um instrumento de humilhação política de Saddam Hussein. Era evidente que este não podia ceder a tudo, sob pena de perder a face perante os seus. Ficou assim entre o exílio e a morte. Escolheu esta última.
Agora, razões para a invasão americana não havia, e era difícil ver à época que benefício político podiam os EUA retirar dela. Foram muitos os que avisaram para o desastre anunciado, e longe de se situarem todos no espectro da esquerda ou extrema esquerda.
Não é verdade que em 2003 os EUA estivessem confrontados com uma decisão espinhosa no que diz respeito ao Iraque (o Irão era já a potência em ascensão na região, pelo menos desde a primeira guerra do Golfo). Era evidente que qualquer intervenção americana naqueles moldes iria, além de minar as bases frágeis em que assentava a coesão nacional iraquiana, provocar um profundo desequilíbrio na região, naturalmente aproveitado pela República Islâmica do Irão.
Em suma, a argumentação do historiador Rui Ramos não colhe, parece-me mais fundada numa ética da convicção (no sentido weberiano). Só que a vontade (a dos americanos) nem tudo pode; e pode cada vez menos).
4/1/07 16:32
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