Offscreen
Fui ver um filme muito marado ontem. A foto não me deixa mentir mas ainda assim a maradice da coisa vai muito além do que a foto pode sugerir. Para terem uma pequena ideia do que representa este filme para um dinamarquês (o filme é dinamarquês) vou ficcionar um paralelo do que poderia ser este filme feito por um português.
Imaginemos então que um actor conceituado português, um actor jovem digamos, nos seus trinta e muitos ou quarenta e poucos, decide ir ter com um também jovem realizador português e lhe pede uma câmara emprestada para se filmar. Teríamos portanto na primeira cena o actor a ligar a câmara e o realizador a explicar-lhe como funciona. Partiria então o actor com a câmara na mão ligada filmando cada passo e cada momento da sua vida. Perceberíamos rapidamente que a mulher em casa não gosta da ideia e que o casal vive um momento difícil. Imediatamente sentiríamos que o actor não regula bem, que ama a mulher desesperadamente mas que esta se afasta cada vez mais, e sentíriamos que a câmara ligada se torna uma obsessão e uma dependência, ele é incapaz de a desligar.
Aos poucos a vida do actor, que desempenha o seu próprio papel não o esqueçamos, começa a desmoronar-se: é despedido do teatro onde trabalha e expulso dos filmes que tem agendados devido a estar sempre de câmara ligada. A mulher foge para o estrangeiro deixando-o num desespero decadente. Encontra-a por fim mas percebe que não há esperança num futuro em conjunto e enquanto dorme a mulher leva-lhe a câmara. Reencontramos o actor com um look diferente (mais demente e assustador, ver foto) a explicar que comprou uma nova câmara depois da mulher ter levado a outra. Percebemos que a coisa vai acabar mal. O actor instala-se numa casa onde coloca câmaras em todas as divisões e passeia pelo apartamento com uma faca a simular assassinatos. Encontra uma amiga na rua e vai para os copos com ela. Leva-a para o apartamento e mata-a com várias pauladas. Simula com o cadáver o dia em que a mulher o deixou mas desta vez "convence-a" a ficar.
Imaginemos então que um actor conceituado português, um actor jovem digamos, nos seus trinta e muitos ou quarenta e poucos, decide ir ter com um também jovem realizador português e lhe pede uma câmara emprestada para se filmar. Teríamos portanto na primeira cena o actor a ligar a câmara e o realizador a explicar-lhe como funciona. Partiria então o actor com a câmara na mão ligada filmando cada passo e cada momento da sua vida. Perceberíamos rapidamente que a mulher em casa não gosta da ideia e que o casal vive um momento difícil. Imediatamente sentiríamos que o actor não regula bem, que ama a mulher desesperadamente mas que esta se afasta cada vez mais, e sentíriamos que a câmara ligada se torna uma obsessão e uma dependência, ele é incapaz de a desligar.
Aos poucos a vida do actor, que desempenha o seu próprio papel não o esqueçamos, começa a desmoronar-se: é despedido do teatro onde trabalha e expulso dos filmes que tem agendados devido a estar sempre de câmara ligada. A mulher foge para o estrangeiro deixando-o num desespero decadente. Encontra-a por fim mas percebe que não há esperança num futuro em conjunto e enquanto dorme a mulher leva-lhe a câmara. Reencontramos o actor com um look diferente (mais demente e assustador, ver foto) a explicar que comprou uma nova câmara depois da mulher ter levado a outra. Percebemos que a coisa vai acabar mal. O actor instala-se numa casa onde coloca câmaras em todas as divisões e passeia pelo apartamento com uma faca a simular assassinatos. Encontra uma amiga na rua e vai para os copos com ela. Leva-a para o apartamento e mata-a com várias pauladas. Simula com o cadáver o dia em que a mulher o deixou mas desta vez "convence-a" a ficar.
O filme termina com os amigos da rapariga morta a correrem atrás do actor que nunca abandona a câmara, nem mesmo quando o apanham e o espancam até à morte.
Perdi-me um pouco no exercício de "imaginar que seria um português", mas é fundamental para o entendimento do filme ter presente que o homem é famosíssimo na Dinamarca e que faz dele mesmo, numa actuação brilhante, gigante e brutal.
Um outro detalhe genial é a ligação que ele estabelece com a câmara ao longo da película; momentos antes de ser apanhado pelos tipos a imagem da mulher aparece, sendo essa a única imagem "não-real", não-possível se quisermos, visto que tudo o resto que ele filma é "realidade"/possível, como se a sua mente obcecada e louca tivesse passado para a câmara que usa e por isso ao mesmo tempo para o espectador também.
O realizador é Christoffer Boe, o actor é Nicolas Bro (blogue, tem um vídeo do filme no topo), este tipo simpático na imagem seguinte, tirada obviamente do filme:
Juntar a isto tudo é necessário dizer que vi o filme às 22h30 no Cinema Nova em Bruxelas que é um espaço absolutamente delicioso, uma garagem esburacada onde se pode ver os tijolos da parede, umas cadeiras forradas a vermelho e o ecrã branco pendurado por arames enferrujados.
Ontem posso dizer vi cinema. Segue-se Von Trier, mal arranje tempo.
lipemarujo
escrito por Filipe a 8:51 da manhã
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