Temos de lutar muito para não ir com a(s) corrente(s). Batalhar muito para não ir com a opinião geral e fácil das coisas. O que se escreveu e disse sobre a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos foi na grande maioria enormidades de falta de pudor.
O que sabemos nós sobre os atletas? O que sabemos das suas performances durante o ano? Sobre os métodos de treino? Sobre os seus objectivos? O que sabemos nós do desporto em que estão envolvidos? O que sabemos da prova em que participaram? Como correu?
A resposta a estas perguntas é nada ou quase nada. Apenas sabemos os títulos dos jornais e algumas declarações após as provas e pegando nisso partimos para julgamentos sumários, para afirmações injustas e ignorantes.
De quatro em quatro anos entramos num frenesim por medalhas sem sabermos nada ou quase nada do percurso, do desporto e dos objectivos dos nossos atletas. Entre esses quatro anos esquecemo-nos e não queremos saber (tirando um ou outro mundial).
Claro que não gosto de ouvir a nossa judoca Telma Monteiro a queixar-se das arbitragens depois de perder, mas eu nem sequer vi a prova, nem sequer sei quando foram proferidas as declarações. Será que não foi frustração a quente? Será que foi mesmo prejudicada? Sabemos nós das horas de treino da Telma (e de tantos outros)? Sabemos nós que apoios tem, como sobrevive desportivamente?
Claro que ouvir um atleta a dizer "eu de manhã só na caminha" depois de não conseguir os objectivos numa das provas não cai bem. Mas que sabemos nós do ambiente em que isso foi dito? Do tipo de pessoa que é e de como lida com um falhanço pessoal?
Não sabemos nada ou quase nada.
O problema não está em sermos críticos. Um adepto tem esses três direitos divinos: aplaudir, assobiar ou silenciar-se. O problema são as críticas pelas críticas, as críticas ignorantes, as críticas rancorosas.
Ir aos Jogos Olímpicos é um feito, um grande feito e que só com muito treino e persistência se alcança. Vencer uma medalha é ainda um feito maior só ao alcance de alguns que graças à conjugação desse treino, persistência, talento e sorte o conseguem atingir.
Esquecemo-nos que ninguém mais que o próprio atleta quer te sucesso. Esquecemo-nos que a derrota por muito que nos doa, dói muito mais ao atleta. O desporto tem esse grande drama que o torna tão especial: a glória da vitória é de todos a tragédia da derrota é do atleta. As lágrimas de Nélson Évora ontem ou o sorriso da Vanessa há uns dias são deles, do seu esforço e das suas conquistas mas muito dessas emoções são para os outros também: a família, os amigos e para nós anónimos adeptos. Qualquer pessoa que pratica desporto sabe isto muito bem: o sabor de uma vitória é muito nosso mas não significaria nada sem um adversário e o respeito que nos merece e gente com quem partilhar esse sucesso.
Não devo poder ver a cerimónia da entrega do ouro ao Nélson Évora mais logo. Tenho muita pena pois o meu orgulho é imenso. Orgulho pelas nossas cores e por ele e o resultado que alcançou. E também porque sou um romântico nestas coisas.
A três tempos como no salto: é ouro, é ouro, é ouro.
Filipe