do Ensino em Portugal
A minha relação com os livros é idêntica à minha relação com os sapatos. Compro compulsivamente sem pensar se terei disponibilidade para os ler ou não. Aliás os meus amigos deixaram de marcar encontros comigo na FNAC, que "não valia a pena andarem atrás de mim enquanto eu investigo estante por estante, à procura aquele livro que tinha visto há uns tempos atrás", dizem eles. O cartão de crédito está a atingir os limites, e segundo a opinião de um outro amigo meu, devo ganhar muito bem porque o meu limite é maior que o dele.
Numa viagem longa não consigo decidir que livro levar. Desta vez não foi excepção.
Estava eu muito tranquila no bar do intercidades [sim estas coisas ainda existem] com o meu laptop aberto, rodeada de jornais e livros, ao meu lado alguém que eu supus ser o JoaoMiranda [é assim que eu imagino o JoaoMiranda], pergunta-me se estou a trabalhar na tese [a pronúncia estrangeira faz cair por terra a minha esperança de finalmente conhecer o JoaoMiranda]. Respondo [naturalmente] que não [mas o facto de ter na mesa o «MLA Handbook for Writers of Research Papers» pode ter sido o causador da confussão], que gostava era de estar informada e de conhecer outras ideias e teorias [a conversa parou por ali porque a minha mãe sempre me instruiu a não falar com estranhos].
Não deixei de ficar perplexa que um estrangeiro [que aparentava ser um académico que escrevinhava nuns papeis repletos de fórmulas matemáticas ou químicas, não sei bem], tivesse o reflexo imediato de pensar que alguém que leia livros [de não ficção] só poderia ser estudante [aqui entendido como aluno integrado numa instituíção de ensino], este é um um pensamento que eu reconheço na maioria dos portugueses, mas não esperaria num estrangeiro [talvez esteja em Portugal há demasiado tempo, o seu português era bastante claro...]
Para mim [que sou uma desiludida com o sistema de ensino totalmente reverencial e acrítico que se pratica nas Universidades Portuguesas, com aversão ao debate de ideias, à divergência] a instrução do indivíduo, para além do percurso formal, deve passar por um circuito informal de conhecimento. Para isso é fundamental ler e estudar, entrar em contacto com teorias diferentes das nossas, assistir a debates, procurar informação, pensar e discutir sobre os assuntos que mais nos interessam. Só assim poderemos ter uma sociedade mais evoluída, mais capaz. Mas isso depende da vontade de cada um.
escrito por aL a 1:14 da tarde
3 Pós e Contas:
a instrução do indivíduo tb passa por falar com muitos estranhos! Aprende-se tanto com os livros como com as pessoas!
22/4/06 20:57
Não me poderia identificar mais com este post...;também eu sou uma compradora compulsiva de livros(e ainda só tenho a esperança de que a FNAC chegue brevemente a Braga!),porque também eu gosto de alimentar a minha curiosidade .E quando vejo que não tenho essa disponibilidade.de que fala,gosto de pensar que já estou a investir para quando me reformar.
23/4/06 20:36
Sim tens razão minha querida sushi lover, os estranhos por vezes proporcionam-nos ensinamentos surpreendentes, que não se encontram nos livros, é um facto!
Cristina pelo que me recordo dos meus tempos em que vivi em braga a 100ª página é uma livraria bastante aceitável...
25/4/06 19:11
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