Relendo
Reler é cada vez mais um acto que me é querido. Os livros que lemos no passado tornam-se outros livros quando os redescobrimos no presente. Mas na realidade, sabemos que isso não é verdade, nós é que somos outros, os livros são os mesmos.
Retomei há dias um livro que me fez sonhar há uns anos largos: A Arca das Kerguelen.Trata-se de um livro de viagem. Viagem às ilhas Kerguelen, um arquipélago francês perto do Pólo Sul. O autor é Jean-Paul Kauffman jornalista francês. Nos anos 80 Kauffman esteve preso alguns em Beirute. Após a sua libertação, decidiu fazer esta viagem em vez de escrever sobre o trauma que viveu. Criou uma história que estou agora a redescobrir.
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Ficam aqui alguns excertos (tradução minha):
"A maior parte dos homens aborrece-se a bordo. Erram pelos corredores, bebem um copo no bar e depois fazem a sesta. Gosto desta vida sem rumo e monótona. Para qualquer lazer ela não oferece mais que o ritual do aperitivo e a contemplação do oceano. Existência enclausurada, sem verdadeiro objectivo: para mim é a verdade no estado puro."
"Num navio, só é importante o que se vê. Não há nada para ver, o mar acaba por parecer uma superfície abstracta e inerte sobre a qual o nosso barco se debate para existirO aborrecimento num navio não se parece com nenhum outro. É uma lassidão vagamente exaltada onde se ligam sensações contrárias na mesma monotonia."
"Um dia, para nos conformarmos a um qualquer fuso horário imaginário, adiantámos os relógios uma hora. A medida parece aos passageiros o cúmulo do arbitrário: para quê mudar a hora se o tempo não tem mais nenhuma importância?"
"Pensamos ser o primeiro. Quero convencer-me que tenho em minha posse neste instante o olhar, o sinal, a prova, a sensação que vai decidir todas as que se seguem. À medida que o Marion (barco) se aproxima da costa, sinto crescer em mim uma preocupação. Este mundo que parece surgir do caos primitivo, vai ser preciso identificá-lo, organizá-lo, descrevê-lo. E tenho a presunção ingénua de acreditar que saberei instalá-lo na minha geografia íntima."
lipemarujo
Retomei há dias um livro que me fez sonhar há uns anos largos: A Arca das Kerguelen.Trata-se de um livro de viagem. Viagem às ilhas Kerguelen, um arquipélago francês perto do Pólo Sul. O autor é Jean-Paul Kauffman jornalista francês. Nos anos 80 Kauffman esteve preso alguns em Beirute. Após a sua libertação, decidiu fazer esta viagem em vez de escrever sobre o trauma que viveu. Criou uma história que estou agora a redescobrir.
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Ficam aqui alguns excertos (tradução minha):
"A maior parte dos homens aborrece-se a bordo. Erram pelos corredores, bebem um copo no bar e depois fazem a sesta. Gosto desta vida sem rumo e monótona. Para qualquer lazer ela não oferece mais que o ritual do aperitivo e a contemplação do oceano. Existência enclausurada, sem verdadeiro objectivo: para mim é a verdade no estado puro."
"Num navio, só é importante o que se vê. Não há nada para ver, o mar acaba por parecer uma superfície abstracta e inerte sobre a qual o nosso barco se debate para existirO aborrecimento num navio não se parece com nenhum outro. É uma lassidão vagamente exaltada onde se ligam sensações contrárias na mesma monotonia."
"Um dia, para nos conformarmos a um qualquer fuso horário imaginário, adiantámos os relógios uma hora. A medida parece aos passageiros o cúmulo do arbitrário: para quê mudar a hora se o tempo não tem mais nenhuma importância?"
"Pensamos ser o primeiro. Quero convencer-me que tenho em minha posse neste instante o olhar, o sinal, a prova, a sensação que vai decidir todas as que se seguem. À medida que o Marion (barco) se aproxima da costa, sinto crescer em mim uma preocupação. Este mundo que parece surgir do caos primitivo, vai ser preciso identificá-lo, organizá-lo, descrevê-lo. E tenho a presunção ingénua de acreditar que saberei instalá-lo na minha geografia íntima."
lipemarujo
escrito por Filipe a 8:04 da tarde
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