Nasci seis anos após o 25 de Abril e seis anos antes da adesão de Portugal à União Europeia, então CEE. Em 12 anos fez-se um dos percursos mais importantes da História do nosso país.
Sobre o antes de 1974 tenho os relatos do meu pai e de dois tios. Todos diferentes.
###O meu pai ligado à luta anti-ditadura num grupo Maoista desde os 16 anos, presseguido pela PIDE depois de ter desertado, escondido em Lisboa durante quase um ano, presente no Largo do Carmo no dia 25, e toda uma Saga desde esses 16 anos até aos primeiros anos após a Revolução quando a democracia se impunha como o verdadeiro valor a defender. E o regresso ao Porto de madrugada umas semanas após o dia D e um ano após ter fugido à PIDE, e o abraço ao meu avô num Portugal já liberto mas ainda não totalmente livre.
O meu tio, irmão do meu pai, enviado para Moçambique antes de 74 claro mas numa altura já pacífica, passando um período de tédio longe da terra Natal, num país apático e perdido. Rendido às paisagens, aos cheiros e ao clima, mas desterrado e impotente face aos acontecimentos na Lusitânia.
O meu outro tio, casado com uma irmã do meu pai, enviado para a Guiné logo nos primeiros anos de Guerra Colonial e dos últimos a de lá sair. Enviado para a linha da frente, se é que havia linhas no mato. Amputaram-lhe parte da alma por lá, a ele e a muitos, povoaram-lhe a mente de fantasmas que ainda hoje reaparecem por vezes.
E há o resto da família claro, a minha mãe, tias e avós, todos, cada um à sua maneira, envolvidos nesse turbilhão, testemunhas em primeira mão do que se passou há 34 anos e nos anos anteriores.
Por todos eles, pela memória dos sacrifícios e da coragem que tiveram, o meu desejo maior é que possamos todos começar a viver o dia a seguir, o 26 de Abril, o 27 e o 28 e por aí fora. Se o 25 de Abril aconteceu foi por isso mesmo, para que os dias que antes dele não passavam, que nos eram tirados e roubados pudessem finalmente correr livres de novo, para o futuro, para um mundo melhor.
Filipe