Um Norte empobrecido
O empobrecimento relativo da região Norte em relação ao resto da Europa e à própria região de Lisboa tem um aspecto paradoxal. O Norte continua a ser a região mais exportadora, enquanto que Lisboa importa muito mais do que exporta. A recente recuperação da nossa balança comercial deve-se às empresas do Norte. Assim, temos um país rico em Lisboa, mas que não exporta para o mercado global, e um país pobre no Norte e que, apesar de tudo, vai produzindo para o mercado global.
A explicação para este paradoxo tem muito a ver com o papel do Estado na sociedade portuguesa. Os rendimentos mais elevados na região de Lisboa devem-se, em boa parte, ao facto de estar aí concentrada grande parte do funcionalismo público. Como os salários dos trabalhadores não qualificados e dos quadros médios da função pública são superiores aos do sector privado, não admira que o rendimento médio em Lisboa seja superior.(...)
A imensidade do Estado e o seu clientelismo estão pois na primeira linha de responsabilidade pela situação a que chegou a região Norte. Mas, enquanto o Norte se afunda na sua crise, o país precisa de descobrir que não pode viver sem ele.
João Rosas, in Diário Económico 2007/05/10
[aL]
A explicação para este paradoxo tem muito a ver com o papel do Estado na sociedade portuguesa. Os rendimentos mais elevados na região de Lisboa devem-se, em boa parte, ao facto de estar aí concentrada grande parte do funcionalismo público. Como os salários dos trabalhadores não qualificados e dos quadros médios da função pública são superiores aos do sector privado, não admira que o rendimento médio em Lisboa seja superior.(...)
A imensidade do Estado e o seu clientelismo estão pois na primeira linha de responsabilidade pela situação a que chegou a região Norte. Mas, enquanto o Norte se afunda na sua crise, o país precisa de descobrir que não pode viver sem ele.
João Rosas, in Diário Económico 2007/05/10
[aL]
Etiquetas: Citações, coisas de Estado, economia
escrito por aL a 9:11 da tarde
4 Pós e Contas:
Lá está a balança comercial. Aparentemente acham bem trabalhar mais (exportar) para consumir menos (importar). Já não se usa desde Smith.
10/5/07 22:11
Hipótese alternativa - as sedes sociais das grandes empresas estão em Lisboa, e os executivos e a sua entourage são melhor pagos que os operários fabris.
"Como os salários dos trabalhadores não qualificados e dos quadros médios da função pública são superiores aos do sector privado"
Não tenho tanta certeza disso - acho que até há pouco tempo, as telefonistas da função pública até ganhavam menos que o salário mínimo nacional (que só se aplicava ao privado).
E creio que um "técnico de exploração de telecomunicações" da Portugal Telecom ganha mais que um "assistente administrativo" na função pública (sendo categorias de conteúdo equivalente).
É verdade que os funcionários públicos têm o privilégio de trabalhar 35 horas (em vez das 40 do privado), mas isso não se repercute nas estatísticas do rendimento regional (penso que não se recorre a nenhuma formula estranha para transformar essas 5 horas de descanso em "rendimento para efeitos estatísticos").
10/5/07 23:26
Já agora, os vencimentos de algumas profissões na função pública (euros/mês):
telefonista...435...até...745
motorista...464...até...761
serralheiro mecanico...618...até...797
auxiliar administritivo...418...até...699
assistente administrativo*...650...até...1101
(a diferença entre o aux.adm. e o ass.adm. é essencialmente de formação - 9º ano para os "aux", 11º para os "assistentes")
técnico contabilidade...964...até...1781
enfermeiro*...970...até...2427
técnico RX*...970...até...2172
* sem funções de chefia
Note-se que não estou a dizer que são menores ou maiores que no privado, estou a postalos apenas como "base para discussão"
11/5/07 10:52
No Norte têm fechado muitas fábricas, tem havido um refluxo das indústrias, em particular do têxtil. É importante pôr esses dados na equação do empobrecimento relativo.
Historicamente, os salários (e a produtividade) eram mais altos no Sul. Aí se fixavam grandes unidades de produção, no que há indústria de capital intensivo diz respeito (ainda hoje, há muito verdade nisso, pois não podemos esquecer o peso de uma Autoeuropa).
Provavel/, é na região de Lisboa que encontramos a maioria das empresas de valor acrescentado do sector dos serviços. Mas concordo que não podemos esquecer os serviços públicos aí concentrados, bem como as sedes das grandes empresas.
E Portugal é uma economia aberta, que importa muito e exporta pouco; talvez seja redutor avaliar a riqueza das regiões apenas pelo indicador das exportações.
11/5/07 12:41
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