A minha crítica à dicotomia esquerda/direita, sobretudo em Portugal, não acontece por eu ser fascista, comunista, ditador populista ou misantropo, nem por ser envergonhado (isto é, segundo o artigo, ser de direita mas ter vergonha), nem por ser do centro (curiosa esta, porque só se é do centro ao aderir à dicotomia esquerda/direita, toda a dicotomia acarreta uma terceira via que é o meio termo, o tal centro neste caso), nem sou a favor de um modo retórico (no fundo, como disse e bem o Miguel, é o tal centro). Isto para pegar nos quatro modos que o JCR apresenta como possíveis para alguém se situar para além da esquerda e da direita. A mim parece-me que todos eles se inserem perfeitamente na dicotomia.
Mas o artigo é redondo com um quê de sofista. Eu percebo onde JCR quer chegar, visando sobretudo o PS e o PSD que diz, e com razão, serem muito parecidos. Ele pretende uma fractura, eu também. Mas ele diz que isso tem de acontecer segundo a lógica ideológica de esquerda e direita, e não consegue ver que essa lógica foi precisamente a razão do impasse em que nos encontramos. Não percebeu que a dicotomia não permite essa fractura porque segue, precisamente,
como o Miguel diz, uma lógica quase clubística. Para mim, esse não me parece ser o caminho.
lipemarujo
ps- Miguel, à pergunta "és do Benfica ou do Sporting", respondo "sou, obviamente, do FC Porto".