um blogue socialmente consciente
emocionalmente irresponsável
19mesesdepois@gmail.com
sexta-feira, setembro 30, 2005
Financiamento cultural
“Vou subsidiar cada vez menos espectáculos que não têm públicos, porque entendo que se um projecto não vinga ao fim de três anos, o investimento deve ser redireccionado”
A esquerda, por princípio, não acha que a relativa opacidade das linguagens contemporâneas seja um estratagema de uma fraude: acredita que ela faz parte da tentativa de ensaiar o tal mundo novo. Daí à falta de critério vai um passo: a esquerda tende a aceitar tudo de todas as maneiras.
A esquerda nunca sentiu, portanto, necessidade de expiar os seus fantasmas da mesma forma que a direita. É por isso que utiliza a autoridade de forma descomplexada. O que é verdade para tudo e, logo, também para o apoio à "criação".
“Porque nós não vamos permitir que os vossos interesses sejam afectados! Aí deles se não fornecem mais cadeiras!”, vociferava o presidente. Num discurso típico de quem treinava para fugir daquele início de carreira, preenchia as mentes dos mais incautos, para quem algumas palavras de consolo chegavam. “E vamos fazer bailaricos! E vamos fazer corridas de saco, e jogar às escondidas!” As pessoas, que viam os outros divertirem-se assim, aplaudiam, felizes, alegres, cegos. “E para além disto tudo, vocês vão poder pagar as vossas cotas em 4 vezes!” Um BUAAAHHH entusiasmado e excitado percorreu a plateia. Até ali apenas se podia pagar em 3 vezes. Bem, que melhoria!
Até que alguém da plateia, bem lá do fundo, sem se perceber muito bem quem era, por estar imerso no entusiasmo geral, perguntou a medo. “Mas já sabíamos que não ia haver problemas com as cadeiras. Lá em cima já nos tinham dito. Mas e quem não poder sentar-se nas cadeiras? Quem não tem pernas para chegar à altura a que elas obrigam?” O presidente apenas acenou e continuou a prometer promessas cumpridas. Já um pouco mais segura, repetiu-se a voz das profundezas. “Mas nós, à terceira prestação, já estamos a pagar o mesmo que pagávamos o ano passado. A quarta já é um aumento.” “Ah Ha!” contra-atacou o presidente. “ Mas vão haver ajudas. Mais uma do que no ano passado. Serão 11!”congratulou-se por esta conquista de terra domesticada! Lutadora, escutou-se a voz. “Mas já o ano passado eles deram-nos 11 vezes dinheiro. Foi a meio do ano a 11ª. E este ano, nós nem sequer podemos receber. Não nos deixam. Que vai ser feito em relação a isso?” “Vão ser feitos ainda mais bailaricos, e mais corridas e mais cantadas ao desafio. Enquanto se mantiver o povo entretido, ele não vê, aplaude!”
A campanha para as presidenciais já se iniciou há algum tempo. Os candidatos principais já se encontram definidos, faltando Cavaco Silva oficializar a sua candidatura. No espectro actual, vejo Manuel Alegre como o melhor candidato a ocupar o lugar de Presidente da República. Não que seja a pessoa mais indicada do cenário político português, mas entre os candidatos existentes, é aquele que recolhe as melhores características para desempenhar aquela função. Não desempenhou nenhum cargo político de destaque no passado mais presente durante dez anos. Não pretende perpetuar as relações de poder, agarrando-se ao poder, como se fosse água no deserto. Defende a alternância política, e de certa maneira, tenta seguir esse caminho. Representa uma candidatura apartidária e independente, como creio que deve ser o cargo de Presidente da República. Apesar de pertencer à família política que se encontra alojada em S. Bento, é um forte crítico das ideias por lá defendidas, o que vem enfatizar a sua independência. Passou por todas as lutas importantes da democracia portuguesa, mantendo sempre um certo distanciamento dos holofotes da televisão, o que lhe permitiu não ser obrigado a cedências. Porque defende ideias das quais eu também partilho. E porque também eu sou um republicano!
Ao anunciar a candidatura nos modos em que o fez, Manuel Alegre poderá ter cometido alguns erros, que lhe poderão delimitar o eleitorado. Se não, vejamos:
• Anunciou a sua candidatura nos inícios da campanha autárquica. A imediatez desta declaração poderá criar um efeito de desgaste, que, por exemplo, Cavaco, anda a evitar. Porém, esta antecipação poderá levar a uma maior mobilização, necessária para Alegre, por não ter uma máquina partidária a trabalhar para ele; • Declarou-se candidato em pleno jantar socialista. Alegre beneficiava de uma apartidarismo invejável. Poderia recolher votos à direita, daqueles que não querendo votar nem em Soares, nem em Cavaco, iriam votar neste último por falta de escolha. Poderia amealhar votos à esquerda, daqueles que não vêm em Soares o candidato ideal e aglutinador que ele desejava ser. Poderia ter conseguido os votos dos que não gostam de candidaturas presidenciais partidárias. Porém, esta opção poderá vir a aumentar o efeito Alegre, a sua vitimização. Ele poderá incorrer num processo de expulsão do partido, ao qual tanto deu, ou não tivesse Sócrates ontem dito na Guarda que “o PS está com Soares. O PS só tem um candidato, Mário Soares”. Logo, se Alegre se candidata, e não apoia Soares, é porque não é do PS. Mais um erro que poderá funcionar em seu favor, já que tornou-se num candidato apartidário; • Colocou numa posição difícil todos os socialistas que o querem apoiar. Se por um lado vêm M.A. como a opção certa, longe do despotismo soarista, um garante da independência que os partidos deveriam promover, por outro, em plena processo autárquico, não quererão desligar-se do aparelho do partido. Não sei o que acontecerá aos que o apoiarem. “O PS está com Soares!”
Esperemos agora pelo anúncio oficial da sua candidatura, para ver como irá reagir o eleitorado.
A corrida à presidência da República tem agora mais um candidato. Apesar de já há muito esperado e anunciado, Manuel Alegre comunicou a sua pretensão de se candidatar a Belém. Tal como já anunciara, esperava esta candidatura, que pudesse funcionar como estimulante nestas eleições que já se previam decididas, e isto em pleno Setembro, quase meio ano antes de se ir às urnas.
No entanto, o local e altura deste anúncio não-oficial da candidatura merecem alguns reparos. Alegre escolheu a sua terra natal para o fazer. Até aqui, muito bem, aproveitando assim o socialista para demonstrar algum desprendimento em relação à capital, que é tão necessário, frisando a sua independência, longe dos tradicionais círculos de decisão. Um verdadeiro republicano. Porém, fê-lo longe dos seus verdadeiros apoiantes, mencionando apenas indirectamente que se iria candidatar. Esta estratégia de pré-anúncio oficial poderá funcionar como estimulante para a oficialização. As pessoas mobilizar-se-ão. Aparecerão em quantidade para ouvir a democracia jorrar da sua boca.
Agora, preocupo-me com o rumo da sua candidatura. Será que a vai levar até ao fim, ou será este mais um altruísmo desprendido para ajudar Soares? Se esta hipótese for a sua estratégia, então condeno-a desde já ao falhanço. Total! Neste momento, M.A. está numa posição invejável, de poder roubar votos a Cavaco e aos indecisos. Mas se depois vier a entrega-los de bandeja ao seu “amigo”, ele que não se engane. Esses votos vão direitinhos para a origem. Ninguém quer deixar de não votar ou votar em Cavaco para depois fazer a cruzinha a seguir ao nome de Soares. Esta seria, portanto, uma táctica errada.
Se a sua candidatura for para ser levada até ao fim, como espero, tempos conturbados e tempestuosos aguardam-se. Será difícil para Alegre derrotar o monstro Soares. Este já tem uma máquina bem oleada, e um partido, se bem que dividido, mas com fundos e influências, por detrás dele. Mas, observando o panorama actual, M.A. tem hipóteses de atingir uma segunda volta. Se as candidaturas de Louçã e Jerónimo forem às urnas (o que eu duvido muito. E se não forem, quem irão apoiar? Alegre é menos sapo que Soares…), a dispersão de votos à esquerda, assim como os votos indecisos e cavaquistas podem empurrar Alegre para um combate directo com Cavaco. Contudo será isso mesmo que ele quer? Já se mostrou desprendido de jeitos partidários, mas estará M.A. mesmo disposto a um possível massacre? Eu gostava de vê-lo em Belém!
Jorge Coelho parece esquecer-se que em 2001 foi um feroz defensor da honra da Sra. Fátima, mesmo sabendo das fortes suspeitas, que sobre ela recaíam, da existência de um saco azul
“Noites à Direita - Projecto Liberal” como o nome parece indicar pretende desempoeirar e desmitificar o conceito político de Direita. Assim nestas noites à direita é inevitável que o centro do debate seja a Direita e que o subtema seja apenas o motor de arranque para a discussão.
Na noite do passado dia 22 não foi diferente. A assistência era estranhamente homogénea, as intervenções foram bastante coincidentes, não levando assim a um verdadeiro debate sobre aquilo que me tinha levado ao S. Luiz: a Cultura.
Primeiro ponto que ficou assente seria que deveríamos entender cultura no seu significado mais restrito: arte e lazer. Após esse balizamento do tema foi possível ouvir os discursos mais ou menos preparados de cada um dos comentadores (António Mega Ferreira, Pedro Mexia e Rui Ramos) que acabaram por não fugir muito ao cânone deste tipo de debate, onde quase que conseguimos advinhar a próxima frase do orador!
De facto, foi pena que o conceito do que é um criador artístico se ficasse quase exclusivamente pelos intelectuais, ora um intelectual não é necessariamente um criador artístico. Outra das coisas a lamentar é a necessidade que a direita [democrática] tem de exorcizar fantasmas [o fascismo] que não são seus, e a facilidade com que a esquerda [democrática] aponta para esses fantasmas, esquecendo que dentro do mesmo raciocínio que tem também esqueletos no armário [o totalitarismo de esquerda]. Assim foi perdido demasiado tempo justificando que à Direita não interessa apenas os valores económicos, que a Direita também tem interesses culturais e que esses valores culturais não se resumem à defesa do património.
Ficou, talvez, por perceber qual a postura da direita que se diz liberal face à cultura, obviamente que sempre evitando os clichés como "esquerda vs direita = criação vs património"!
Eu não gosto do Colombo (!), faz-me dores de cabeça, ando sempre aos círculos lá dentro, sem conseguir avançar um passo que seja. Mas por uma razão inexplicável, por vezes dou comigo perdida nos seus corredores.
Aconteceu-me novamente, este sábado... para me redimir desta visita infame a essa catredral do consumo e da boçalidade, fui, como faço sempre, à FNAC.
Azar dos azares encontrei um livro que quero comprar! O problema é que estoirei o orçamento mensal disponível para livros nos saldos do encerramento da Ler Devagar...
Aproveitei e fui, também às compras no supermercado. Comprei a ELLE apenas porque trazia de oferta um trolei por apenas mais 0,99€ - eu adoro essas promoções e brindes, acho quase sempre irresistível.
Ao folhear a revista descubro que agora existe uma coisa chamada retrossexual – homem de barba rija e mau feitio, como antigamente – ora isto deixa-me perplexa, ainda há pouco me tinha habituado à ideia da existência dos metrossexuais, depois descubro que há outra categoria de homens: os überssexuais – George Clooney e Donald Trump são exemplos desta novo nicho de mercado, estes marketeers têm cada uma! Comparar o Clooney ao Trump... – agora aparecem os retrossexuais! Depois admirem-se que uma rapariga em idade casadoira ande confusa!
Como se não bastasse o horóscopo diz-me que tenho a minha vida pessoal um caos, e que se não resolvo tudo até ao final do ano, o melhor é esquecer a felicidade.
Há cada vez menos areia na parte de cima da ampulheta...
i) lamento que a audiência presente fosse demasiado homogénea em termos ideológicos, mas quem perde foi quem não esteve...
ii) lamento que a audiência não tenha contado com a presença de elementos da "comunidade" artística, o debate era sobre cultura [isto vem alimentar o cliché que a comunidade artística é inevitavelmente de esquerda, ou então adversa ao debate...], mais uma vez perde quem não esteve
iii) lamento que as intervenções dos convidados se tenham debruçado demasiado nos intelectuais enquanto "fazedores" de cultura. Ou seja o debate acabou por ser demasiado académico, com exemplos demasiado académicos. Ora a cultura não é apenas a cultura do pensamento, da filosofia, da literatura, é também a cultura das arts vivants [em português este conceito soa mal, e acho que artes de palco não são a definição mais correcta], quem perdeu fomos todos, pois poderiamos ter um debate mais alargado
Hoje às 20h30, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.
António Mega Ferreira é o Agente Provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita.O Director do Canal 2: Manuel Falcão vai tentar moderar as vozes de Pedro Mexia, Rui Ramos e de todos os outros convidados presentes.
Os promotores:António Pires de Lima, Filipa Correia Pinto, Leonardo Mathias, Luciano Amaral, Manuel Falcão, Paulo Pinto Mascarenhas, Pedro Lomba e Rui Ramos.
Sobre os direitos aquiridos... If you have been voting for politicians who promise to give you goodies at someone else's expense, then you have no right to complain when they take your money and give it to someone else, including themselves.
ao contrário do que pensei não fomos para o restelo... acabamos por ir passear lá para os lados da ajuda e quando dei por mim estava a caminho do ikea. confesso que a viagem não foi boa, queria sair dali, quase que tive um ataque de fúria, mas consegui controlar. fiquei com vontade de nunca mais o ver... acho que vou cancelar o próximo encontro
[...] é importante discutir se, em grande parte, não cabe à direita a responsabilidade pela larga difusão de tantos lugares-comuns. Se não é a própria direita que se tem esquecido de pensar a cultura, de agir culturamente, de sair da máscara de ferro em que a tentam encerrar.
Paulo Pinto Mascarenhas, in Diário de Notícias 2005/09/20 “A Direita e a Cultura”, 20h30 dia 22 de Setembro, no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, em Lisboa. António Mega Ferreira é o Agente Provocador de uma conversa sem sentido único mas virada à direita. O Director do Canal 2: Manuel Falcão vai tentar moderar as vozes de Pedro Mexia, Rui Ramos
Ela era alguém a quem se poderia chamar uma rapariga na flor da idade. Ele era um moçoilo um pouco mais velho, não muito, que se não os vizinhos começariam a comentar. E se há um assassino cruel em todas as aldeias, ele é o cochicho. Ela parecia estar enamorada dele, nunca o confessou a ninguém, nem mesmo a ela própria. O catraio armava-se em engatatão da zona, e apenas em alturas em que acreditava que ninguém parecia reparar, atrevia-se a usar o cotovelo do olho como telescópio do seu desejo mais profundo.
Houve um dia que ela abalou para longe. Bem, vamos ser honestos, eles não estavam assim tão apartados, mas nem com a lente mais forte ele conseguia mira-la. Contusões surgiram no seu pensamento. Deixara-a escapulir-se e nem havia lançado o menor movimento para prenda-la, não à terra – como seria ele capaz de tal. Também ele houvera um dia partido, mas já todos sabemos que a literatura é muitas vezes circular, e quem fala em livros, quer na verdade dizer vida – mas a si. Ela era água. E ele flor murcha.
Mas já diziam os nossos avós, há ir e há voltar. E também há um provérbio que fala em pássaros e mãos. Prefiro olvidá-lo e esperar.
Confesso que não sou grande fã da série “Morangos com Açúcar”. No entanto, um dia com vontade para o nada fez-me mergulhar na poça desta novela. Uma história básica, sem grandes efeitos novelísticos, conta as aventuras de um grupo de pessoas num estância balnear em pleno Verão. Por entre os sinuosos corpos femininos, apercebo-me algo verdadeiramente chocante. Existe um tríptico homossexual, desta vez, ao contrário do “Esquadrão G”, baseado em personagens femininas, no qual uma delas (perdoem-me os mais acérrimos fãs, mas não sei os nomes. Se me poderem ajudar, agradeço) forma o centro das atenções de outras duas moças.
Escrevo isto, porque, este fim-de-semana houve uma manifestação em Lisboa em favor da boa moral televisiva, que visa tirar o “Esquadrão G” dos escaparates da caixa mágica (julgo ser basicamente isto, mas se for algo mais, peço para me elucidarem sobre os motivos do ajuntamento popular). Gostaria, assim, de alertar estes movimentos cívicos com base no PNR e na FN para esta devassa moral que representa os “Morangos com Açúcar”. Aquilo que parecia não mais ser do que uma simples história de entretenimento, transforma-se num atentado à moral portuguesa, e aos seus bons costumes. Não desejaria nenhum desses senhores ir um dia até à Foz do Douro e encontrar um casal de belas donzelas aos beijos, por ter visto um episódio desta famosa série. Nada mais anti-natura!
Em conversa com alguns amigos (e aqui refiro-me realmente a amigos no masculino) sobre a manifestação deste fim-de-semana, todos eles saíram-se com aquela máxima "quantos mais, melhor! mais mulheres ficam!"
Obviamente que este pensamento distorce por completo que no plano afectivo a lei do mercado não funciona!! Não é por haver menos homens heterossexuais que o seu valor aumenta, dada a limitação da oferta e a grande procura! A heterossexualidade não é o único atributo que uma mulher procura num homem, por vezes nem sequer é o primeiro!
O facto é que não creio que haja alguma mulher queira ficar com um espécime masculino, apenas porque sim... tem realmente de haver consentimento entre os dois para a transacção ocorrer - é tão bonita esta linguagem económica!
E por isso meus senhores, aconselho-vos a ter mais atenção com o que dizem, conclusões dessas não vos fica nada bem e podem ser contraproducentes...
Um frasco de comprimidos observa-me calmamente. Não se aproxima, mantém-se inerte, lançando ondas de calor à minha volta. Aquece-me o coração. Olho-o. Sou tentado a amá-lo. Quero-o! Desejo-o! Quero que ele me penetre, se expanda em mim. Que me possua, que tome conta de mim.
Desde o início do mês que tenho visto partir partes de mim. Sinto a incompletude assomar-se de mim, apesar de saber que ainda tudo está comigo. A partida de três pessoas que me são queridas para outras realidades fez-me questionar sobre o nome a dar aos sentimentos que pelejam pela vitória do meu estado.
Assim, tentei uma pesquisa convencional, para saber tratar os bois pelos nomes. No dicionário Houaiss, encontrei a seguinte definição para a expressão "Fazer falta":fazer sentir a sua ausência por morte ou necessidade". O Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa foge desta opinião:Carência ou prejuízo causados por alguém. Impus-me a pergunta se eles teriam morrido. Tropeço em mortes espirituais todos os dias. Não seriam os primeiros. Mas contactos temporários com eles mostram-me que a juventude e irreverência continuam a florir. Mas que eles me fazem falta, lá isso...
Passei então para "sentir falta":desaparecimento ou ausência física de alguém provocada por falecimento. Já li isto em algum lado.
Passemos então para "saudade": Sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação de presença de alguém ou de algo , de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável.
Não sei bem o que sinto. Fazem-me falta os gritos de uma, as trocas de ideias com outra, as conversas com outro. Passeiam-se pelo meu pensamento. Já é algo. Já vivemos bastante juntos, quer fisicamente, quer no mundo do tudo e nada. Aqui lhes deixo algo, para saberem que não estão esquecidos. Não vá a memória perecer.
Por momentos pensei que o sr. da esquerda [à minha direita] iria enfiar quilos de papelada pela goela abaixo do outro, e que o sr. da direita [à minha esquerda] ia arrancar a poupa do outro à dentada!
Portugal é o país da UE (a 15) que regista maior intensidade energética: 0,15 toneladas equivalentes de petróleo por unidade do PIB, contrastando com os 0,11 tep de PIB da média Europeia (dos 15). Quer isto dizer que para produzir cem unidades de riqueza, Portugal precisa de consumir 15 unidades de energia.
Uma economia desenvolvida caracteriza-se pelos baixos níveis de intensidade energética, no entanto em Portugal à medida que a economia foi crescendo, a intensidade energética foi também aumentado, ao ritmo de 9% ao ano.
Não possuímos fontes energéticas e ainda desperdiçamos ou utilizamos de forma pouco eficiente os recursos energéticos.
As autoridades nacionais têm de actuar no sentido da diversificação dos recursos, bem com apostar na redução da intensidade energética.
Alterar este quadro implica tomar decisões complicadas e definir prioridades. A investigação tecnológica tem de obrigatoriamente ter um papel fundamental a desempenhar neste processo, que deverá começar quanto antes. Continuo a defender que o investimento em unidades de pesquisa nas universidades portuguesas poderá ser um passo fundamental para a mudança deste cenário.
Uma nova tecnologia descoberta hoje só terá plena aplicabilidade daqui a alguns anos. O risco nestes investimentos é muito elevado, o que poderá dissuadir alguns investidores privados menos aventureiros. No entanto a médio prazo esse risco tenderá diminuir dando espaço para a entrada de novos investidores e a gradual saída do estado.
Se houvesse alguma certeza de que os preços do crude se manteriam permanentemente acima dos $40/bdp as fontes de energia alternativas seriam desenvolvidas.
Mas nós estamos agora no pior de todos os mundos imagináveis – preços tão altos que podem prejudicar a economia global, a par de uma incerteza tão aguda que os investimentos necessários para fazer baixar os preços não estão a ser feitos.
Regresso a casa e descobro-me dentro de uma intervenção artística de alguém para quem a minha casa foi a sua casa de bonecas, o seu local de brincadeiras. Sigo-lhe o rasto, sei que não lhe fui indiferente apesar da minha ausência.
Penso nesse alguém que podia ter tocado no meu percurso... de certa forma esse alguém modificou a minha vida, sinto ainda o espectro da sua presença...
Janto um queijo acompanhado por um vinho, na aparelhagem Belle & Sebastian, despeço-me das férias, do verão...
Espero por alguém, alguém que deixe mais do que apenas o rasto...
O Amor só convém aos capazes de suportar essa sobrecarga psíquica. É como tentar atravessar um caudal cheio de mijo com um caixote de lixo às costas.
Charles Bukowski, As Mulheres
Vejo-me enclausurado. Tudo que tenho à frente são obstáculos, entraves, paredes de betão, que me prendem neste bunker. Observo-me perdido. Procuro saídas deste labirinto, mas os caminhos que percorro vêm dar aqui. E como odeio estar aqui. Como anseio por ar puro, por água translúcida, por ver o que tenho à minha frente.
Paredes fétidas acariciam-me a pele. Tento escapar, mas o lodo viscoso que me cresce nas mãos não me deixa agarrar-me. A humidade aumenta. Pequenas gotas escorrem lentamente, dançam ritos negros na minha barriga. Já são esgotos que me substituem os sapatos. Mesclas de sólidos e líquidos que outrora já foram de dentro de nós passeiam-se por entre os meus pés. Um líquido amarelo nada não sabe para onde. Esta pestilência ganhou vida. Entra para dentro de mim, e faz dos meus pulmões, sala de estar. Lá beberica de uma chávena com a Morte. E que belo par que fazem. Não conversam. Sabem que já está tudo dito, tudo feito.
Rio-me. Que ridículo. Olha para mim, ajoelhado, face contra os joelhos, a lacrimejar lodo, visco, ranho. Que figura patética. “Coitado” sussurra a multidão. “Será que ele aguenta?”, dispara a vizinha do lado, que deixou o estrugido no lume a queimar. Ai como ardo. O meu fígado é fogueira, a cerveja que bebo lenha. Não paro, recuso-me a desistir. Quero desaparecer! “5 Euros em como ele não aguenta mais cinco minutos!”, cospe o clone da esquerda. “Dez em como o espectáculo dura mais dez minutos”, vomito, só para ganhar mais dinheiro. Arrasto-me, pelo sangue. É óptimo! Rebolo, mergulho, engulo esta mistela para me aguentar mais oito minutos. Só mais 400 segundos e vais ver. Desta vez hei-de ganhar. Não me levas a melhor. Sento-me à mesa com eles. Peço mais 3 minutos. Só isso. Mais nada. Urinam-me em cima de mim. O líquido amarelo entra no sangue. Beija a ferida, acariciando-a lentamente, faz amor com ela. Penetra nela, lentamente, docemente. Vem-se para dentro de mim. Sinto-o percorrer pelas artérias, veias, músculos, ossos. Arrasta-se lentamente delimitando os caminhos por onde rasteja. Já não me pertenço. Regozijo-me de prazer.
Mais um minuto. Vou rir-me na cara deles. Espezinharam-me, pontapearam-me, escamotearam-me toda a vida. Mas estes dez euros são meus. Pelejo como se a minha vida dependesse disso. É desta. 20 segundos. Vejo um esboço a desenhar-se na no meio da cara. “Ele está a rir!” atiram de lá dó fundo. 5, 4, 3
Aplaudi a morte dele. Todos batemos palmas. Foi um espectáculo formidável. Mas já está na hora de levar os miúdos para casa. Eles não deviam focar acordados até tão tarde. Até porque eles amanhã têm escola.
Acabo de ouvir o discurso de Manuel Alegre. Um sentimento de desilusão percorre-me. Acreditava que ele se fosse candidatar. Acreditava que ele iria ser a escolha anti-partidária, desligada de apoios directos de partidos que querem ter um yes-man em Belém. Acreditava que ele iria ser a alternativa a déspotas democráticos, que não se cansam de lutar pelo poder, enquanto não cedem a cadeira a novos ideais, desprendidos do poder, fora dos círculos que decidem tudo que há para decidir no país. Acreditava que ele estaria presente para lutar, deixando uma imagem de coragem e desprendimento. Acreditava que ele, devido à sua cor partidária, e ao desentendimento público com o partido iria criar um novo espaço no pântano político português, que injectasse uma dose de independência na presidência da República (pela qual ela desespera). Acreditava que Alegre tivesse coragem para enfrentar os grandes barões da política que insistem em partidarizar o cargo de PR. Acreditava que ele iria ter um melhor resultado que Soares e que iria a uma hipotética 2ª volta, dando assim um estalo de luva branca a todos os que o abandonaram, incluindo aquele, que dizia ser seu amigo. Acreditava que ele poderia ser eleito, e iria elevar os ideais que lhe são tão queridos acima de quaisquer amizades. Agora quero acreditar que aquele discurso foi uma manobra, para ver se os apoiantes se mobilizam, se mostrem, se movimentem e realmente o apoiem para entrar nesta corrida pela Democracia. Por tudo isto, e porque também eu sou um republicano, Manuel Alegre tem o meu apoio para se candidatar e o meu voto para ganhar.
Depois de ler o texto de João Fiadeiro ( Expresso/Actual 03/09/05) e correndo risco de falar em causa própria, não posso deixar de aplaudir este excelente exemplo de consciência cívica e artística. São deploráveis as condições em que trabalhamos (comunidade artística, desde actores, bailarinos, designers de luz e som, produtores...), não há legislação adequada à intermitência do trabalho artistico...não há política cultural...
Estou muito curiosa por saber o que pensam estes senhores sobres estes assuntos...
Hoje acordei com os pés gelados. Vesti um velho casaco de lã que encontrei entre as minhas roupas de antigamente. Tive vontade de cheirar os cadernos, encadernar os livros novos, pôr tudo na mochila. Tive vontade de ir para a escola, de chegar a casa às 6 da tarde – quase noite – de comer um pão com Tulicreme e beber leite com Cola~Cao. Tive vontade de ver o ursinho Teddy. Tive vontade de ter outra vez 6 anos!
Por um grande interesse pessoal nas questões energéticas passei pelo sítio da Associação Portuguesa de Produtores Indepndentes de Energia Electrica de Fontes Renováveis (APERN). Até aí nada a apontar... o problema levanta-se quando tento saber mais informações sobre as alternativas energéticas e o que me aparece é isto e isto e mais isto...
É inadmissível que a informação disponibilizada por esta associação sobre as energias alternativas seja para crianças de 6 anos! aliás o próprio grafismo desta parte do sítio parece ter sido elaborado por crianças de 6 anos!
Seria importante e útil - numa sitituação em que as alternativas energéticas são um assunto em debate - que os conteúdos fossem mais rigorosos, quer do ponto de vista técnico, científico e financeiro - não percebi quanto custa a construção de um parque eólico, por exemplo - de forma que qualquer cidadão comum consiga perceber o que está em causa e defender aquilo que acha essencial nesta questão.
Depois de ler isto, e tendo em consideração que o mercado funciona eficazmente (!), suponho que temos 2 soluções:
i) continuar a deixar circular transportes públicos em estado de sucata, sendo um perigo para os passageiros, utentes da via pública e para o ambiente;
ii) aumentar o preço dos bilhetes dos transportes públicos, tornando economicamente competitiva a compra de viatura própria, levando aos inevitáveis engarrafamentos.
não me espanta nada esse comentário que tece em relação às comunidades africanas. Concordo plenamente no valor da notícia para esboçar qualquer tipo de comentário. Aliás, foi o que sempre fiz, para opinar sobre o teu post. Porém, eu não criei nenhum tipo de filtro, que apenas deixasse entrar a informação que queria ouvir. Daí, aconselho-te a descer desse teu auto-denominado Olimpo, e que leias as notícias que correm em Portugal, país de que ambos somos habitantes, se bem que por vezes parece que moras noutra realidade.
(...) Em Albuquerque, no Novo México, um ex-marine dispara contra um helicóptero da polícia, provocando o despenhar da aeronave. Em Lawrence, no Massachusetts, um veterano de 33 anos, condecorado há pouco com o título de «Marine of the Year» depois de passar meses no Iraque a preparar funerais de caixão aberto, foi acusado de tentativa de homicídio porque se pôs a disparar contra uma multidão de noctívagos barulhentos.
Da mesma forma que a direita salazarista o foi no Estado Novo, a esquerda actual é profundamente preconceituosa. É preconceituosa quando afirma que os agentes culturais estão do lado da esquerda e são maioritariamente socialistas. É preconceituosa quando qualifica qualquer pessoa de direita como apenas conhecedora de números e estatísticas. É preconceituosa quando reduz à cultura o seu entendimento privado e único. Porque não julga que a cultura pode viver sem apoio do Estado e é preconceituosa porque, tal como a direita salazarista acreditou, considera que não estamos preparados para vivermos fora da alçada do Estado.
Ao ser preconceituosa, da mesma forma que a direita salazarista o foi no Estado Novo, a esquerda actual é profundamente inculta. André Abrantes Amaral, in O Insurgente 01/09/05